Após PR, governo de Goiás também decide recolher livro 'O Avesso da Pele'
Na mira de bolsonaristas desde o início da semana, o livro "O Avesso da Pele" também será recolhido das escolas estaduais de Goiás após determinação da Secretaria de Estado da Educação.
O que aconteceu
A secretaria diz que "fará a leitura e análise com vistas a definir se o livro poderá ou não ser distribuído" aos alunos do ensino médio. O governador Ronaldo Caiado (União) segue a mesma determinação do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), que pediu o recolhimento dos exemplares na segunda-feira (4) — ambos são aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O governo de Goiás afirma que o recolhimento tem o objetivo de "assegurar" que a obra possa "efetivamente contribuir com o desenvolvimento" dos alunos. O Paraná também afirmou que fará uma análise do livro.
O livro faz parte do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e foi incluído na lista de obras literários para o ensino médio em 2022 — durante o governo Bolsonaro. O livro passou por uma análise de professores, mestres e doutores que fazem parte do banco de avaliadores do MEC. Após a avaliação, o título foi aprovado e apresentado às escolas junto de mais de 500 outras obras literárias.
O programa do MEC também dá autonomia para que os professores e gestores escolham os livros que chegarão às escolas. "O Avesso da Pele" faz parte também das obras literárias abordadas no vestibular do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), considerado o mais difícil do país.
Vencedor do Prêmio Jabuti em 2021, o livro é do escritor e professor Jeferson Tenório, colunista do UOL. Na obra, ele retrata a história de um jovem negro que teve o pai, um professor de literatura também negro, morto pela polícia em Porto Alegre — o racismo e a violência são temas centrais da narrativa.
As críticas ao livro começaram após a publicação, em redes sociais, de uma diretora de uma escola do Rio Grande do Sul. Ela afirmou que a obra apresenta "vocabulários de tão baixo nível para serem trabalhados com estudantes do ensino médio". A secretaria da Educação do RS afirmou que o livro está mantido nas escolas.
São atos violentos e que remotam dias sombrios do regime militar. Inaceitável uma atitude antidemocrática como essa em pleno 2024. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura.
Jeferson Tenório após Paraná mandar recolher os livros
Partidos pedem investigação
A federação PSOL-Rede na Câmara dos Deputados entrou com representação ao MPF (Ministério Público Federal) pedindo uma investigação contra o governo do Paraná. Para os deputados, a medida tomada no estado viola uma lei federal.
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) diz que ofício é "medida antidemocrática". Para a parlamentar, que é líder da federação PSOL-Rede, a ação segue uma estratégia de extrema-direita mundial e seria parte de um projeto que pretende excluir da educação básica as contribuições da população negra para o enfrentamento do racismo.
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