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Docentes federais da BA racham com federação que aceitou oferta do governo e mantêm greve

Professores de federais da Bahia decidiram nesta terça-feira (7) manter greve - Anderson Sotero/UOL
Professores de federais da Bahia decidiram nesta terça-feira (7) manter greve Imagem: Anderson Sotero/UOL

Anderson Sotero

Do UOL, em Salvador

07/08/2012 20h09Atualizada em 07/08/2012 20h27

Os professores de instituições federais baianas decidiram nesta terça-feira (7) não aceitar a oferta do governo e dar continuidade à greve em assembléia convocada pelo Apub (Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia). O Apub faz parte da Proifes (Federação de Sindicatos de Professores de Instituições de Ensino Superior), que aceitou a proposta do Ministério do Planejamento.

São também filiados à federação os professores da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que decidiram encerrar a greve.

Com 310 votos a favor, 29 contrários e três abstenções, a decisão foi tomada após cerca de quatro horas de assembleia -que foi marcada por tumultos e agressões verbais diante do racha que se estabeleceu entre a direção do sindicato e do comando de greve.

Renúncia

Com os ânimos acirrados e gritando “renuncia”, os grevistas ainda colocaram em votação a destituição da direção da Apub como pauta para uma assembleia que será realizada no próximo dia 15 de agosto. Com o auditório já esvaziados, os professores conseguiram aprovar a pauta (145 a favor e 14 contra). A desfiliação da Apub ao Proifes também foi sugerida pelos docentes, mas não chegou a ser encaminhada para votação.

“No dia 2 de agosto, nós enviamos uma contra proposta ao comando nacional. A proposta oferecida não reestrutura a carreira. Todos os professores com mestrado e associados terão perda salarial em 2015. A segunda proposta do governo é pior que a primeira”, destacou o professor Jair Batista, do comando de greve.

“Vamos encaminhar essa decisão para o comando nacional para que force a reabertura de negociação com o governo”, complementou. Segundo o professor, o comando de greve foi estabelecido após assembleia com 400 docentes no dia 29 de maio e era formado por 21 representantes e dois diretores da Apub. No entanto, os dois representantes do sindicato se retiraram do comando de greve.

  • Anderson Sotero/UOL

    Professor discute com presidente da Apub (sentada, de costas) durante assembleia que decidiu pela manutenção da greve

"Situação peculiar"

Batista ressaltou ainda o embate gerado entre o comando de greve a direção da Apub. “Temos uma situação peculiar na Bahia. A base a favor da greve e a direção do sindicato contra. O comando de greve repudiou a atitude do Proifes de assinar o acordo com o governo. Foi uma conduta política nefasta”, disse.

De acordo com o comando de greve, mesmo após o repúdio, a direção da Apub não levou a Brasília o resultado da assembleia. “A professora Silvia Ferreira [presidente do Apub] se comprometeu em assembleia a defender o que fosse decidido. Só que ela foi para o conselho deliberativo e não defendeu nenhuma deliberação aprovada em assembleia”, afirmou.

A presidente da Apub, Silvia Lúcia, combateu as acusações, mas admitiu que o posicionamento da direção do sindicato é da não continuidade da greve. “As acusações são válidas, mas eu não concordo. Eu levei para a mesa de negociação o que foi aprovado em assembleia. O problema é que em uma mesa de negociação se avança. Não posso levar só a decisão do comando”, disse a presidente da Apub.

Metralhadora de brinquedo

Durante a assembleia, Silvia foi vaiada várias vezes e ainda ganhou de um professor uma metralhadora de brinquedo. “Foi feita uma consulta do Proifes nacionalmente e 74% das respostas foi de que concordavam com a proposta do governo. Não é uma greve local, é nacional. O posicionamento da Apub é acompanhar o encerramento do Proifes que é o encerramento da greve. O governo já encerrou as negociações.A Andes sabe entrar numa greve, mas não sabe sair e não apresenta contra-proposta”, emendou Silvia. 

A presidente da Apub foi ainda acusada pelos grevistas de convocar uma assembleia “tendenciosa”, com ponto único sobre “encerramento da greve”. Ao dar início à assembleia, sob protestos, ela voltou atrás e acatou pedido dos grevistas para que a pauta fosse “greve, avaliação, encaminhamento”. Silvia ainda foi contra que integrantes do comando de greve fizessem parte da mesa. Mas, com novos protestos e vaias, também voltou atrás e aceitou.

O clima ficou ainda mais tenso quando a presidente da Apub disse para os grevistas que convidou representantes do Ministério Público Federal, do Ministério Público do Trabalho e da Ordem dos Advogados (seção Bahia). A direção da Apub foi ainda questionada pelos grevistas sobre o contrato de seguranças para os diretores. Representante do sindicato, o professor João Augusto admitiu que foram contratados seguranças por conta das “abordagens dos professores”.

Discussão

Filiada à Apub, a professora Regina Antoniaze disse que não se sente representada pelo sindicato. “Me sinto representada pelo comando de greve. A assembleia é soberana e a Apub não respeitou isso. A direção da Apub nos traiu”, disse.

Para o professor Paulo Fabio, o único a falar ao microfone que era contra a continuidade da greve, a proposta do governo é insatisfatória, mas razoável. “A proposta não atende ao conjunto das reivindicações, mas isso não é motivo para a continuidade. As assembleias não tem gerado contra-propostas. Os professores mantem a proposta inicial. A proposta do governo não reestrutura a carreira, mas avança. A reestruturação da carreira é uma luta que deve prosseguir, mas não devemos condicionar isso à greve”

Realizada na faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. Participaram da assembleia cerca de 350 docentes da UFBA e da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) e do IFBA (Instituto Federal da Bahia). A paralisação começou em 29 de maio.