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Da escola para o trabalho

Lucila Cano

02/12/2016 06h00

Para além das fronteiras da Geografia e dos mergulhos nas páginas da História, aprendemos na escola matérias essenciais para o bom desempenho futuro no trabalho. Tais ensinamentos não estão descritos no currículo, mas são inseparáveis do dia a dia de professores e alunos. Falo do comportamento e de como ele envolve tudo o que fazemos.

Presenciamos na atualidade dois cenários semelhantes. O ambiente da escola e o ambiente do trabalho são muito parecidos, embora reúnam pessoas em estágios diferentes de conhecimento. No entanto, em ambos, as pessoas devem apresentar bons resultados e, para tanto, especialistas em educação e em clima organizacional indicam caminhos muito próximos.

Sem dúvida, é na escola que aprendemos os primeiros passos da caminhada. É na escola também que aperfeiçoamos a desenvoltura desse caminhar e acrescentamos à nossa bagagem um manancial de conhecimento, ferramentas e habilidades que serão úteis no trabalho.

Professores são os agentes desse processo e, por isso mesmo, são cada vez mais exigidos. O saber científico, assim como as facilidades tecnológicas e a reformulação de espaços, tornam-se insuficientes se não estiverem acompanhados de um novo jeito de ensinar.

Inovação

Recentemente, o jornal Folha de S. Paulo realizou um fórum sobre inovação educativa, no qual especialistas de diversas áreas discutiram a qualidade do ensino, os recursos tecnológicos à disposição, diferentes metodologias e a formação do professor.

É no nível do comportamento que tais discussões despertaram o meu interesse, porque o que se propõe para a inovação escolar é o que também as organizações buscam para o ambiente de trabalho. O que hoje pode definir o sucesso de um professor e, consequentemente, o sucesso dos alunos que ele forma, é depois medido no trabalho em análises comportamentais. Situações muito comuns a esses dois mundos são as demandas por diálogo, a realização de tarefas em grupo, o espírito empreendedor, a busca constante pelo desenvolvimento, a vontade de inovar.

As avaliações de desempenho também abordam questões cada vez mais presentes na escola e que se referem ao papel social dos indivíduos. Por sinal, essas questões estão cada vez mais atreladas ao processo de contratação de novos talentos nas organizações. Soma pontos não quem se diz, mas quem se mostra interessado e atuante em ações sociais de relevância, como o respeito à diversidade, a prática do voluntariado, a disposição para compartilhar conhecimento.

Caminho sem volta

Por mais que o Brasil esteja aquém do nível de qualidade de outros países no tocante à educação e por mais que ainda tenhamos que conviver com sérias deficiências na formação de professores, caminhamos para o futuro.

A cada novo debate, a cada nova proposição para que a escola troque a letargia do ensino tradicional por modelos mais vibrantes, mais próximos das necessidades do mundo atual, avançamos, e muito, em um caminho sem volta. Porque a realidade é dinâmica, as relações de trabalho e de convívio em sociedade também. E, principalmente, porque nosso cérebro funciona mais e melhor quando está operante, resolvendo problemas, criando soluções, superando desafios.

A escola inovadora, mais participativa da vida como ela é, descortina um novo tempo, favorável à pesquisa, ao trabalho compartilhado, à busca espontânea do desenvolvimento e à prática de ações sustentáveis. Evoluímos e temos a oportunidade de ser bem melhores do que somos. Em uma de suas famosas composições, Paulo Vanzolini dizia: “Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima”. Precisamos nos preparar para que a inovação dê uma boa sacudida na escola.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.