Jovem psicóloga larga carreira, faz cursinho e passa em medicina na Famerp
Estudar "até a bunda ficar quadrada" e mentalizar diariamente o mantra “paciência e determinação” foram duas práticas adotadas por Thaís Albuquerque Pimentel, 30, para conseguir sua aprovação nos vestibulares de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa (que usa a prova da Fuvest) e da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto), em 2014.
E, para quem pensa que a maior dificuldade foi passar no vestibular, a jovem brinca que os obstáculos apenas “começaram” com a aprovação. Desde o início do curso, no ano passado, Thaís tenta superar a adaptação à nova cidade (ela saiu de São Paulo para estudar na Famerp), a saudade da família e amigos e a rotina puxada de disciplinas. Sem falar no desafio mais recente, conciliar as aulas do curso com o tratamento de um câncer de mama nos próximos seis meses.
Apesar da quimioterapia, a estudante decidiu continuar frequentando a faculdade, sempre que possível. Para ela, algumas aulas têm ajudado como válvulas de escape. "Diria que estou fazendo uma imersão na medicina e no SUS [Sistema Único de Saúde] na prática", brincou em postagem numa rede social.
Diante de todas essas "surpresas da vida" é que Thaís reforça que quer incentivar as pessoas a não desistirem dos sonhos, mesmo que a idade seja um fator que pese na decisão. "A doença agora é mais um desafio. Depois que passar essa fase mais difícil eu tenho muita esperança que eu consiga retomar o sonho da medicina e exercitá-la muito bem. Quero cuidar do meu paciente da melhor forma possível”, disse.
Psicologia, adeus!
Um ano de cursinho, muitas horas de estudo e dedicação para passar em medicina. O percurso que Thaís fez até sua aprovação parece se confundir com o de muitos vestibulandos, mas a decisão de tentar medicina foi considerada “radical” por muita gente.
Em meados de 2014, meses depois de se formar em psicologia pela USP (Universidade de São Paulo) -- vestibular que passou em primeiro lugar em 2008, a jovem decidiu se demitir do emprego numa consultoria para se dedicar à preparação para o vestibular.
“Antes de deixar minha carreira de psicóloga, claro que pensei: ‘Será que não sou velha?’. Mas vi que ou era tentar ou era viver infeliz para o resto da vida”, comentou a estudante, que na época tinha 27 anos.
Ela lembra que algumas pessoas chegaram a criticar e questionar sua escolha, mas sua necessidade de realizar o sonho de infância falou mais alto.
“Ainda é difícil lidar com a questão da idade. Poxa, aos 30 anos eu pensava que estaria bem-sucedida, casada, com filhos. Mas, não. Por um lado, entrei com a cabeça mais madura. Por outro, a questão cronológica influencia”, desabafa. “Deixar minha família também não foi fácil. Mas eles me apoiaram. Inclusive, meu marido [na época namorado] largou tudo também e se mudou comigo.”
Outra forma encontrada para ajudar nas mudanças foi a criação de um perfil numa rede social sobre a rotina de uma estudante de medicina. Na página (com mais de 10 mil seguidores), Thaís publica fotos da “vida no interior”, do curso de medicina e mensagens motivacionais – é no mesmo local que muitos “fãs” têm ajudado a estudante a lidar com a doença.
Dicas de uma ex-vestibulanda
Segundo aluna de medicina, algumas práticas adotadas durante o tempo de cursinho foram fundamentais para as aprovações – tanto na USP quanto na Famerp.
Além das muitas horas de estudos diárias, a jovem separava um tempo para fazer os simulados e as provas anteriores dos vestibulares que iria prestar na época. Para se ter uma ideia, durante os estudos em 2014, ela refez as provas da Fuvest dos seis anos anteriores.
A estratégia ajudou a jovem a relembrar o conteúdo da prova e ainda organizar o tempo para responder as questões. “Foi um ano de 'faca na caveira'. Não queria perder mais tempo e dividi bem meus estudos. Li todos os livros da Fuvest no trajeto de casa para o cursinho. Na volta, ia ouvindo podcasts com aulas de história”, acrescentou.
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