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Desempregado, jovem vende sanduíches e faz vaquinha para estudar na Europa

Tales quer se tornar assistente social - Reprodução/Facebook
Tales quer se tornar assistente social Imagem: Reprodução/Facebook

Lucas Azevedo

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

18/05/2016 12h26

Tales Cauim de Oliveira Aires, 22 anos, conquistou uma bolsa de estudos na Universidade do Algarve, em Portugal, a partir de sua nota no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O problema é que o curso na área de educação social começa em setembro e o jovem de Porto Alegre ainda não conseguiu todo dinheiro para os gastos iniciais.

Desempregado, o morador do bairro Glória, na zona sul da cidade, decidiu então vender sanduíches e fazer uma vaquinha virtual para tentar realizar o sonho de estudar fora do Brasil.

"A candidatura foi feita online. Fiquei sabendo pelo Facebook que as universidades portuguesas estavam aceitando alunos pelas notas do Enem. 'Não custa tentar', pensei. Acabei sendo aceito e me deram uma bolsa”, conta Aires. A anuidade de seu curso é de 2 mil euros, mas ele terá que pagar 1,1 mil.

A “correria atrás da grana” começou logo que soube que foi aprovado. Juntou daqui, apertou dali, mas viu que ainda faltava para a anuidade do curso, passagem, visto e gastos básicos.

Foi então que decidiu arriscar uma nova estratégia. Durante o dia, ele procura um emprego fixo e prepara sanduíches. À noite, ele vende aos colegas durante o intervalo das aulas numa universidade particular, na qual também é aluno. Com a mesma nota do Enem, ele ganhou uma bolsa para cursar serviço social nessa instituição.

"Tentei entrar nas universidades federais aqui no Brasil. Mas, infelizmente, elas são feitas para quem não precisa se manter [trabalhando]”. Deixar de trabalhar para Aires nunca foi uma opção.

"Um caso bem chato para mim foi passar na UFCSPA [Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre] para o curso de fisioterapia e não poder levar adiante. As aulas eram de manhã, de tarde e, às vezes, de noite. Eu não tinha como fazer. Não cheguei a me matricular. Eu tinha nota, mas vi a grade horária e desisti", conta.

Vaquinha

Desde que sua história começou a ser compartilhada pelas redes sociais, o estudante está vendo sua "vaquinha" engordar. "Ela tá ficando bem gordinha", brinca.

A campanha, que entrou no ar no sábado, vem superando suas expectativas. Em pouco mais de três dias, ela já havia alcançado metade do valor estimado- de R$ 8mil.

Tales está otimista, mas ressalta que o dinheiro que precisa arrecadar agora é para possibilitar sua viagem e o primeiro ano de graduação. O restante ele irá conseguir trabalhando.

"Para me sustentar lá pretendo trabalhar à noite, já que o curso é durante o dia. Já fiz amigos de lá que estão me dando dicas de quanto eu devo gastar em alimentação, por exemplo”, explica Aires, que trabalha desde os 12 anos em bicos de atendente de telemarketing, porteiro e garçom.

“De alojamento será cerca de 150 euros mensais. A alimentação é muito barata. Com 100 euros eu devo comer o mês todo. Pretendo trabalhar em algum restaurante, já que tenho qualificação, já fui garçom e me dou bem com o público”, acrescentou.

O maior objetivo de Aires é se formar em assistência social e retornar para o Brasil para trabalhar com ONGs e programas sociais.