Topo

Aluno do ensino médio na rede pública do Acre passa em 5 faculdades nos EUA

André Melo largou o curso de direito na Federal do Acre para estudar em Yale - Arquivo pessoal
André Melo largou o curso de direito na Federal do Acre para estudar em Yale Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

17/07/2014 11h34

Prestes a completar sua segunda semana nos Estados Unidos, o jovem acriano André Lucas Buriti de Melo, 19, ainda não acredita que conquistou uma vaga e bolsa integral para estudar na Universidade Yale, uma das mais prestigiadas instituições norte-americanas.  O estudante também foi aprovado em mais quatro universidades dos EUA: Babson, Brown, Duke e Georgetown.

“Parece um sonho mesmo. Se me perguntassem há quatro anos eu não ia nem saber te explicar o que era Yale ou qualquer outra universidade norte-americana”, diz André, que começou a tomar conhecimento do assunto quando entrou no ensino médio em 2009, aos 14 anos.

Em 2012, ele foi aprovado em direito na UFAC (Universidade Federal do Acre), mas não desistiu de estudar fora do país.

Inscrição e aprovação

Ainda no ensino médio, ele conheceu o trabalho de uma fundação que auxilia jovens brasileiros a estudar no exterior, a Fundação Estudar. Com as orientações recebidas, o jovem decidiu arriscar, mesmo já cursando ensino superior em Rio Branco. Das oito instituições que tentou, passou em cinco. Escolheu Yale, em New Haven (Connecticut), por considerar a mais adequada aos cursos que pretende: economia e relações internacionais.

“Os processos de seleção são meio parecidos. É preciso ter um bom desempenho escolar, enviar cartas de recomendações, escrever artigos falando sobre você, o que te interessa e como a educação que você vai receber pode te ajudar como pessoa. Coisas desse tipo. É preciso fazer duas provas, uma de proficiência no inglês e uma de conhecimentos gerais, o SAT [uma espécie de Enem norte-americano]”, explica o estudante, que aprendeu inglês sozinho.

“O que você faz fora da sala de aula também conta muito. No fim, algumas ainda realizam entrevistas com o diretor da universidade”, acrescenta. Segundo o universitário, as instituições estrangeiras não possuem um perfil padrão de alunos para aprovar. O importante é que o estudante tenha paixão pelo que faz, na opinião dele. 

“Não adianta você pensar que ganhando cinco medalhas de ouro em olimpíadas internacionais vai passar. As universidades querem pessoas com tipo diferentes de vida. Que gostem de música, ciências, humanas. O legal é que ele mostre suas intenções sobre o que quer fazer e como quer contribuir para a sociedade. Isso que conta”, opina.

Trajetória

Os últimos cinco anos da vida de André foram bem agitados. Durante o ensino médio, cursado na escola estadual Professor José Rodrigues Leite (centro de Rio Branco), o jovem começou a fazer parte de inúmeros projetos e não parou mais. Na época, o estudante não sabia que esse tipo de currículo conta muito na seleção das universidades norte-americanas.

“Sempre fui muito extracurricular. Cada experiência fora da sala de aula me habilitava a participar de outras. Tive oportunidade de apresentar meu estado em alguns eventos do MEC [Ministério da Educação], venci uma OBMEP [Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas] estadual e uma nacional, ajudei a fazer um relatório para a Unesco sobre os desafios da educação e por aí vai”, lembra.

Em 2011, ele foi um dos selecionados para simular a jornada de trabalho dos deputados federais por meio do Parlamento Jovem Brasileiro. No ano seguinte, foi escolhido pela Unesco para trabalhar em Londres na produção de um relatório global sobre educação.

Em 2013, já frequentando o curso de direito na UFAC, foi escolhido como um dos 50 líderes estudantis pela Academia Global Hesselbein, da Universidade de Pittsburgh (EUA), voltada ao estímulo da liderança estudantil e engajamento cívico.

Diante de todo seu "currículo", André foi selecionado como aprendiz na Wise (World Innovation Summit for Education - Cúpula Mundial de Inovação para a Educação). Ele foi o primeiro brasileiro aprovado na entidade.

O universitário faz questão de dizer que sem a ajuda da família nada teria sido possível. Filho único de um pai carpinteiro e mãe servidora pública, o estudante sempre recebeu apoio, até nas "metas mais malucas", brinca. "Ah, eles são anjos na minha vida. O maior sonho deles é me ver formado e numa profissão honesta."