Topo

Estudantes questionam notas de corte do Sisu e falam em erros na ferramenta

Página inicial do Sisu 2020 - Reprodução
Página inicial do Sisu 2020 Imagem: Reprodução

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

24/01/2020 17h08Atualizada em 24/01/2020 18h53

Candidatos que tentam uma vaga no Sisu (Sistema de Seleção Unificada), utilizado na seleção de alunos para 237 mil vagas em instituições públicas, foram hoje às redes sociais denunciar o que chamam de erro no cálculo das notas mínimas necessárias para ser aceito nos cursos. A expressão #erronosisu entrou nesta tarde para a lista de temas mais comentados no Twitter no país.

A nota mínima para ingresso em cada curso, conhecida como nota de corte, é recalculada diariamente durante o período de inscrições, conforme mais candidatos vão se inscrevendo, e leva em conta o desempenho dos candidatos na última edição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Um problema, segundo os candidatos, estaria acontecendo em vagas oferecidas por universidades que dão bônus em algumas situações. É o caso do bônus regional, que aumenta em 20% a nota do candidato que more na região em que pretende estudar.

Os alunos relatam que o sistema mostra duas notas de corte diferentes para quem concorre a uma vaga com bônus e sem bônus — o que, segundo os candidatos, não faz sentido e anularia a lógica do bônus.

De ontem para hoje, as notas de corte para vagas de ampla concorrência sem bônus teriam apresentado uma queda de até 200 pontos, segundo relatos ouvidos pelo UOL.

O prazo de inscrições no Sisu foi ampliado até o domingo (26), devido a erros em cálculos de algumas notas do Enem.

Em um vídeo publicado na tarde de hoje, o ministro Abraham Weintraub negou que haja erros no Sisu e disse que o sistema está funcionando normalmente. Sem apresentar provas, Weintraub também acusou os autores dos relatos nas redes sociais de serem ligados a um "partido radical de esquerda".

'Qualquer décimo me tira da disputa'

Paulo Soares, 34, mora em Brasília, tenta uma vaga em Medicina e foi um dos que apontou o possível erro.

"Sempre observo as notas de corte, porque qualquer décimo pode me colocar ou tirar da disputa", diz ele, que afirma ter suspeitado de um problema assim que o MEC liberou as notas de corte parciais na madrugada de hoje.

Ele conta que monitorava as vagas oferecidas pela UFAC (Universidade Federal do Acre), que dá bônus regional, quando percebeu que as notas de corte para candidatos que optam e para os que não o fazem estavam diferentes.

"Essa nota de corte sempre foi a mesma, tanto para quem possui como para quem não possui o bônus, porque elas estão disputando exatamente as mesmas vagas. Mas isso não aconteceu hoje, as notas estavam muito distantes umas das outras", diz.

"Se essa situação continuar até o fim do Sisu, a gente vai ter um problema muito sério, porque a quantidade de vagas é limitada", afirma Soares.

Inclusão nas duas opções de curso

Os estudantes relatam ainda outro possível erro, desta vez envolvendo a inclusão dos candidatos nas duas opções de curso possíveis pelo Sisu.

Boletim mostra candidato inscrito nas duas opções de curso no Sisu - Reprodução - Reprodução
Boletim mostra candidato inscrito nas duas opções de curso no Sisu
Imagem: Reprodução

No sistema, cada candidato pode se inscrever em até duas opções de vaga, sendo que uma delas será a sua primeira opção. Para o cálculo das notas de corte nas classificações parciais, o Sisu deve identificar se o candidato tem desempenho suficiente para ser incluído na sua primeira opção -caso tenha, ele será desconsiderado da segunda opção.

Mas, segundo os estudantes, o Sisu estaria incluindo os candidatos nas duas opções de curso possíveis. Isso teria aumentado muito as notas de corte no sistema —candidatos relatam um crescimento de até 50 pontos em alguns cursos.

Enem na Justiça

O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) já responde a pelo menos 18 ações na Justiça após o MEC assumir ter divulgado parte dos resultados com erro. As notas foram liberadas na sexta (17), quando o ministro Abraham Weintraub declarou ter realizado "o melhor Enem de todos os tempos".

O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), braço do MEC responsável pelo Enem, diz ter corrigido o problema. Mas pelo menos dois estudantes conseguiram liminares para que suas notas fossem novamente revisadas. Na tarde de hoje, o MPF (Ministério Público Federal) pediu à Justiça a suspensão do Sisu, do Prouni (Programa Universidade para Todos) e do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) pelos erros no Enem.