Weintraub diz que MEC ouvirá estudantes sobre possível adiamento do Enem
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse hoje que a pasta fará uma consulta a todos os inscritos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para saber se os candidatos são favoráveis à manutenção da data, ao adiamento do exame por 30 dias ou à suspensão da prova até o fim da pandemia do novo coronavírus.
"Nosso posicionamento é saber a opinião dos principais interessados, perguntando diretamente aos estudantes inscritos", escreveu o ministro. Até hoje, segundo o MEC, o Enem tem 4 milhões de inscritos. O prazo para cadastro vai até sexta-feira (22) e o exame está marcado para novembro.
Weintraub e outros representantes do governo insistiam, até os últimos dias, em manter o calendário do Enem, mesmo com aulas suspensas em escolas das redes pública e privada em todo o país por conta da pandemia de coronavírus.
Hoje, nas redes sociais, o ministro sugeriu que o resultado da pesquisa pautará o governo federal e disse que a consulta será feita na última semana de junho. Ele não deu maiores detalhes sobre a medida.
A reportagem apurou que a ideia foi debatida com o presidente Jair Bolsonaro. Na semana passada, o presidente afirmou pela primeira vez que a aplicação do Enem pode ser atrasada, mas disse que o exame deve ser realizado ainda este ano.
O UOL procurou o Inep (Instituto Nacional de Estudos Educacionais Anísio Teixeira) para saber a data em que será aberta a consulta e qual será o prazo para que os candidatos deem suas respostas, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.
Medidas sanitárias
Em uma transmissão ao vivo nas redes sociais, Weintraub afirmou que a decisão tomada pelos candidatos será acatada pelo MEC, mas criticou os pedidos de adiamento do exame. "Se ficar para fevereiro ou março, na prática a gente vai perder o ano", disse.
Weintraub disse ainda que o ministério está planejando uma série de medidas sanitárias para a realização das provas em novembro.
"Daqui até novembro a gente espera que tenha passado, mas já estamos preparando todo o ambiente para a prova para ter espaçamento maior entre as carteiras", disse o ministro. "Isso inclusive vai aumentar o custo [de realização do exame], porque vamos precisar ter mais salas de aula por pessoas, mais fiscais", afirmou. Segundo ele, também serão disponibilizados álcool em gel, papel toalha e água sanitária nos locais de prova.
"Não estamos insensíveis, entendo o momento difícil pelo qual o Brasil está passando. Mas é importante que a pessoa saiba que não é se trancando em casa, achando que daqui até o fim do mundo ficando parado tudo vai se resolver", afirmou.
Pedidos de adiamento
Entidades estudantis, secretários de educação e reitores de instituições de ensino defendem o adiamento do exame sob a justificativa de que nem todos os estudantes têm condições de manter os estudos durante a pandemia ou nem sequer têm acesso às ferramentas necessárias para o ensino a distância, como celular e computadores com acesso à internet.
Ontem, a DPU (Defensoria Pública da União) apresentou um recurso para pedir ao TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) que reconsidere uma decisão tomada em abril e determine o adiamento do Enem.
A defensoria argumenta que as condições de estudo para os alunos brasileiros são desiguais e afirma que a manter o calendário do Enem mesmo com a suspensão das aulas devido à pandemia prejudicará principalmente os estudantes mais pobres.
Na semana passada, em uma reunião com parlamentares, Weintraub afirmou que o Enem não foi feito para resolver o problema da desigualdade no país e reafirmou que manteria o exame em novembro.
Um projeto de lei que suspende a aplicação do Enem e de outros vestibulares devido à pandemia do novo coronavírus deve ser votado hoje no plenário do Senado. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que o clima no Congresso é pelo adiamento do Enem.
Até o momento, o calendário está mantido: provas presenciais acontecerão nos dias 1º e 8 de novembro e provas virtuais serão feitas em 22 e 29 do mesmo mês.
"Não é assim que política pública funciona", diz especialista
Claudia Costin, diretora do Ceipe (Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais) da FGV (Fundação Getulio Vargas), diz ver o anúncio da consulta aos inscritos com preocupação.
Ela lembra que as escolas se encontram fechadas há cerca de dois meses e diz que muitos alunos do ensino médio precisam do apoio das redes estaduais de ensino para fazerem as suas inscrições no Enem, seja por campanhas de motivação à inscrição ou por disponibilizarem acesso à internet.
"Quem vai poder responder à enquete vai ser quem tem acesso à internet. Parte dos jovens se inscrevia nas escolas, nos laboratórios de informática", diz.
Fazer uma consulta direcionada apenas aos inscritos, na avaliação dela, não corresponde com os princípios que devem orientar a formulação de políticas públicas educacionais.
"Não é assim que política pública funciona. Pode parecer uma inovação, mas não segue alguns comportamentos ou protocolos da política pública educacional, que é ter uma proposta olhando para todos [os indivíduos] que nós queremos e que possam pelo menos pensar ter acesso à universidade", avalia.
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