Topo

Detenta passa em dança na UFS: "quero sair universitária"

Ivanete Paixão passou em dança na UFS - Jadilson Simões/UOL
Ivanete Paixão passou em dança na UFS Imagem: Jadilson Simões/UOL

Paulo Rolemberg

Colaboração para o UOL, em Aracaju

28/03/2016 06h00

36 anos e um mês em regime fechado. Essa foi a punição determinada pela Justiça a Ivanete Leal da Paixão em 2008 pelo crime que ela havia cometido. A mulher tinha 33 anos na época e apenas a 5ª série, atual 6º ano.

Nesses oito anos de passagem pelo Prefem (Presídio Feminino), ela terminou os estudos e fez o Enem. Trabalhou na biblioteca, frequentou aulas de reforço e, agora, está prestes a se tornar uma universitária. Paixão foi aprovada no curso de dança da UFS (Universidade Federal de Sergipe) por meio do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

“Eu entrei aqui envergonhando a minha família e quero sair daqui uma universitária”, diz Paixão, que passou na segunda chamada para o curso ofertado em Laranjeiras, cidade a 21 quilômetros da capital sergipana.

Ivanete Paixão, que foi presa por latrocínio, passou em dança na UFS (Universidade Federal de Sergipe) - Jadilson Simões/UOL - Jadilson Simões/UOL
Ivanete terá de esperar até agosto para sair
Imagem: Jadilson Simões/UOL
Ela conta que teve dificuldades para encarar os conteúdos escolares, mas que “a facilitação de acesso aos livros da biblioteca ajudou nos estudos”, conta a presidiária, destacando também a participação de professores voluntários e dos agentes prisionais. Ela tirou 480 na redação e 500 na prova objetiva -- a escala de notas vai de 1 a 1.000.

O gosto pela dança, segundo Ivanete, surgiu dentro do presídio por meio de um projeto de arte da instituição. “A dança é maravilhosa. É você poder se expressar através do corpo”, diz. Também teve contato com a poesia e, em outubro do ano passado, junto com outras detentas, lançou o livro “Um Outro Olhar”: “Na minha poesia eu contei como é dormir e acordar cercada por grades”.

Diminuição da pena

Mãe de três filhos homens (um de 11, outro de 19 e outro de 22) e avó de duas netas, Ivanete conta que os primeiros momentos dentro do Prefem foram puxados principalmente por não acompanhar o desenvolvimento dos filhos, em especial na fase da adolescência dos dois filhos mais velhos. “Foi difícil, mas não baixei minha cabeça, simplesmente não quis ser mais uma interna”, afirma.

Ela também tem receio de como vão recebê-la na universidade.

Com muitos anos ainda de pena a cumprir, mas com a possibilidade de remissão da pena de fechado para semiaberto, a partir de agosto deste ano, Ivanete poderá ganhar o direito a liberdade condicional. Isso acontece porque Sergipe não possui instalações para cumprimento do regime semiaberto. Caso o juiz conceda a remição da pena, ela pode ganhar a liberdade.

A expectativa de Ivanete era conseguir um adiatamento da data -- em vez de agosto, queria estar livre no começo das aulas na universidade. A Justiça, no entanto, manteve o julgamento para agosto. 

As aulas na UFS começam em julho e a matrícula de Paixão será feita por procuração.