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Alunos criam cursinho gratuito para retribuir a chance de estudarem na USP

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Lavrini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/10/2016 06h00

Caroline Nascimento dos Santos, 21, cursa o segundo ano de engenharia de petróleo da Poli - USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), no campus de Santos (SP). Além da rotina puxada do curso, a jovem– e mais três colegas da turma– ainda se dedicam voluntariamente ao cursinho popular Atuamente, voltado para pessoas de baixa renda da região.

Para ela, participar do projeto é quase uma obrigação: foi a forma que ela encontrou de “devolver” a ajuda que recebeu durante seus anos como vestibulanda. A jovem, que foi bolsista durante o ensino médio numa escola particular de São Paulo, destaca que na época não poderia arcar com os custos da preparação para entrar na universidade pública.

“Os meus dois anos de cursinho foram puxados, mas lá tínhamos todo o auxílio para passar no vestibular. Eu não tinha condições de pagar por um cursinho particular. Se não fosse o Cursinho da Poli – USP [em São Paulo], hoje eu não estaria na melhor escola de engenharia da América Latina”, explica a estudante.

Apesar da alta demanda de atividades, Caroline afirma estar feliz e realizada de ter colocado o projeto em prática e poder retribuir esse “presente”.

“Sempre estou ocupada. Seja estudando para a faculdade, preparando aula, ou dando plantão no cursinho. São muitas atividades, mas sempre arrumamos um jeito”, brinca a jovem. “Me sinto feliz por conseguir ajudar alguém, assim como fui ajudada.”

O sonho na prática

A ideia do Atuamente surgiu durante as aulas do curso em 2015, mas foi neste ano foi que o projeto tomou forma. Para tirar seu objetivo do papel, Caroline se juntou a outros três amigos– Fernando Rocha, Raíssa Toledo e Letícia Castro– e apresentou a proposta para a Universidade, por meio do programa Poli Cidadã.

A resposta foi positiva e eles logo conseguiram um espaço para as aulas e auxílio da instituição para fornecer o material impresso aos alunos. Segundo dados da Escola Politécnica, cerca de 10% dos alunos que ingressam no curso de engenharia do petróleo são provenientes de cursinhos populares, como o Atuamente.

“Gerir um cursinho pré-vestibular demanda tempo e responsabilidade. Porém, graças ao cursinho, pudemos conhecer realidades diferentes da nossa. Crescemos com o projeto”, destaca Caroline. “Apesar de termos apenas dois meses de aula, nós já observamos uma evolução dos nossos alunos no quesito acadêmico. A comparação entre nosso primeiro simulado e a prova do processo seletivo mostrou resultados impressionantes.”

A estudante Sara Cristina, 22, faz parte da primeira turma do cursinho popular e pretende cursar ciências políticas em alguma universidade pública. “Vou prestar todos os vestibulares tradicionais para garantir minha vaga este ano. Estou gostando muito da experiência no cursinho. Os professores estão bem próximos dos alunos e atendem as dificuldades de quem vem de escolas públicas.”

O Atuamente

O cursinho pré-vestibular tem como público-alvo pessoas de baixa renda que estejam cursando o terceiro ano do ensino médio ou que já tenham se formado. A grade educacional engloba todas as disciplinas (português, matemática, história, geografia, química, física e biologia), incluindo inglês.

Atualmente, eles contam com a ajuda de 20 professores voluntários, entre eles alunos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), da Poli e docentes já formados.

“Nós temos hoje 20 alunos matriculados. A capacidade da turma é de 30 alunos, porém pretendemos aumentar o número de vagas para os próximos anos”, diz Caroline. As inscrições para o processo devem ser abertas no início do próximo ano.