Padrão ético
O discurso de encerramento do mandato do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, abordou temas da atualidade comuns a todos os países e povos.
Ouvi de mais de uma pessoa, todas supostamente letradas e bem-sucedidas nos negócios que, em vez de darmos ouvidos às palavras do americano, deveríamos nos concentrar nos problemas que temos em nosso próprio país.
Não restam dúvidas de que precisamos estar atentos ao que se passa ao nosso redor e dar o melhor de nós para resolver nossas questões. Mas, é ilusório supor que ao olharmos para nosso próprio umbigo teremos todas as respostas para suplantar as dificuldades que nos afligem.
Fechar fronteiras, encastelar-se entre quatro paredes vigiadas por câmeras, circular sob a armadura de veículos blindados e alienar-se do que se passa extramuros não livra ninguém da responsabilidade de viver a vida como ela é. Porque a realidade sempre vem ao nosso encontro. Como disse Obama em seu discurso, atribuindo a frase à sua mãe: “a realidade costuma nos cobrar a conta”.
Palavra-chave
A vida é muito mais do que um seletor de canais que só sintoniza os jogos da UEFA, os desfiles de lingerie da Victoria’s Secret, as fofocas sobre a vida privada dos artistas.
A vida é a oportunidade que temos de construir algo melhor para aqueles que virão depois de nós. Quando nos recusamos a enxergar a grandiosidade desse desafio, estamos nos subestimando. Recusamos nos aceitar como somos: criaturas maravilhosamente dotadas de múltiplas capacidades. Muitas delas estão adormecidas, embora sempre seja possível acordá-las.
O mote da campanha eleitoral de Obama – “Sim, nós podemos” -, que ele repetiu no fecho de seu último discurso como presidente dos Estados Unidos, sugere diferentes leituras. Escolho a leitura que pode ser relacionada à ética, aos valores morais que nos qualificam como seres humanos: sim, podemos ser inteligentes, criativos, generosos, honestos, respeitosos e humildes. Sim, podemos fazer coisas aparentemente simples, mas que são transformadoras: ouvir o que as pessoas têm a dizer.
Dialogar e respeitar a opinião do outro. Ajudar quem precisa, não necessariamente com dinheiro, mas com uma palavra de conforto, com uma mão para atravessar a rua ou para subir no ônibus, com um assento reservado no transporte público. Aprender com os próprios erros. Estar aberto para o mundo, combater as desigualdades, respeitar as diferenças culturais e religiosas. Procurar entender e respeitar o fato de que somos todos iguais, embora diferentes.
“Sim, nós podemos” é expressão forte e cheia de significados. Para o bem e para o mal, é claro. Mas, diante de tantas mazelas em todo o mundo, por que não acreditar e trabalhar para que possamos seguir o caminho do bem?
Calendário
O alvoroço com a grande quantidade de feriados passíveis de pontes em 2017 por pouco nos deixa escapar as datas comemorativas agrupadas em janeiro. Afora o dia 1º, da chamada Confraternização Universal, que ainda reserva um minutinho para abraços e beijos entre desconhecidos, ao menos no Brasil, o primeiro mês do ano agrupa datas inspiradoras para a cidadania: Dia da Gratidão; Dia da Liberdade de Cultos; Dia Mundial da Religião; Dia da Não Violência.
Em seu discurso, Obama falou de preconceito, de intolerância e do medo que separa as pessoas em vez de uni-las. Falou da comunicação mal empregada, que restringe o acesso à informação e faz das pessoas prisioneiras de seus próprios nichos.
Falou que quando a confiança nas instituições é baixa, precisamos reduzir a influência corrosiva do dinheiro na política e insistir para que os princípios de transparência e ética sejam respeitados pelos políticos. Falou muito mais e sugeriu a responsabilidade da cidadania como um bom caminho para o futuro.
Sim, nós podemos fazer muita coisa em favor de um futuro melhor, como, por exemplo, elevar o padrão ético. Cidadania implica equilíbrio intelectual e moral.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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