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Em meio à confusão, professores se refugiam em bar e loja no centro do Rio

As professoras Bernadete da Silva (à esq.) e Vera Magalhães ficaram isoladas em um bar que baixou as portas - Fabíola Ortiz/UOL
As professoras Bernadete da Silva (à esq.) e Vera Magalhães ficaram isoladas em um bar que baixou as portas Imagem: Fabíola Ortiz/UOL

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

01/10/2013 19h29

Em meio a bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e corre-corre, professores que estiveram reunidos nesta terça-feira (1), em frente à Câmara Municipal, no centro do Rio de Janeiro, tiveram que se refugiar em bares e lanchonetes nas proximidades da Cinelândia. Eles protestam para impedir a votação do plano de carreira.

Após um dia inteiro de protestos e correria, Bernadete da Silva e Vera Magalhães, duas professoras da velha-guarda que lecionam há trinta anos na rede municipal fizeram questão de participar da mobilização da categoria. Ao final da tarde, após mais uma fuga das balas de borracha, elas se esconderam em um bar que também acolheu outros professores manifestantes. Elas visivelmente mostravam ares de cansaço e frustração.

“Isso me deixa completamente desacreditada do país. Se hoje eu tivesse condições de ir embora do país eu iria porque a educação acabou”, lamentou Bernadete que trabalha no município desde a década de 1980.

“O tempo todo hoje eu fiquei me refugiando em lanchonetes, quero agora ir para casa e não consegui. Já tentei ir embora várias vezes e não consegui porque as bombas aconteceram e ficamos acuados”, comentou a professora que afirma ter chegado à mobilização às 10h desta terça.

“Vim para tentar evitar que o plano do governo fosse votado, fiquei nas escadarias da Câmara Municipal e saí quando percebi que alguma coisa podia acontecer”, disse.

Bernadete afirma ter ouvido relatos de que haveria três pessoas infiltradas responsáveis por quebrarem os portões da Câmara dos Vereadores. “Viram três homens fortes que não eram black blocs ou professores”.

“Não acredito em mais nada”, lamenta

Professora é ferida por bomba

Qual é o país que trata os professores dessa maneira?

Bernadete e sua colega Vera já presenciaram inúmeras greves, mas garantem que nunca como esta, de tamanha intensidade. “Os gestores não são democratas, não querem estabelecer diálogo. Qual é o país que trata os professores dessa maneira? Eu não tenho nenhum sonho, não acredito em mais nada”, lamentou.

Aos 52 anos, Vera Regina Magalhães leciona para alunos autistas em uma escola municipal no Engenho de Dentro, zona norte do Rio. Enquanto esteve refugiada das bombas na lanchonete, teceu críticas ao atual plano em votação.

“A educação está doente, a gente não quer passar criança sem aprender. Eles querem que a gente cumpra metas sem que as crianças aprendam, passar por passar”, criticou.

“Estou na rua acreditando na educação e que os pais nos apoiem e exijam qualidade. Eu sinceramente ainda tenho esperança. Acho que a educação ainda pode ter jeito”, afirmou.

Uma das maiores críticas de Vera é que a escola onde leciona é considerada especial e apropriada para acolher crianças com autismo e algum tipo de deficiência mental ou física. No entanto, a professora afirma ser uma “falsa inclusão”. “Nenhum professor está habilitado para acolher essas crianças. Eu faço na raça”, contou Vera. Na turma de mais de 30 alunos onde leciona, há cinco alunos autistas.