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Jornal: MEC recomendou que palavra 'ditadura' não fosse usada no Enem 2019

Capa da prova rosa do segundo dia do Enem 2019; palavra "ditadura" foi vetada pela comissão que analisou as perguntas da prova - Marina Lang/UOL
Capa da prova rosa do segundo dia do Enem 2019; palavra 'ditadura' foi vetada pela comissão que analisou as perguntas da prova Imagem: Marina Lang/UOL

Do UOL, em São Paulo

11/02/2021 12h13Atualizada em 11/02/2021 12h59

A comissão responsável por decidir as questões que entrariam ou não na prova do Enem 2019 (Exame Nacional do Ensino Médio) sugeriu trocar o termo "ditadura" por "regime militar" em uma das perguntas barradas por avaliar que o termo geraria "leitura direcionada da história". A informação foi divulgada pelo jornal O Globo, que teve acesso ao parecer do grupo.

A questão estava na área de Linguagens, Códigos e suas tecnologias. Ao todo, a comissão desaconselhou 66 questões do exame, sendo 28 na área de Linguagens, 29 na área de Ciências Humanas, quatro em Matemáticas e cinco em Ciências da Natureza.

Os argumentos foram detalhados agora em resposta a um requerimento de informação feito pelos deputados Felipe Rigoni (PSB-ES), Tabata Amaral (PDT-SP), Professor Israel (PV-DF), Eduardo Bismarck (PDT-CE), Luisa Canziani (PTB-PR), Aliel Machado (PSB-PR), Tiago Mitraud (NOVO-MG), e o ex-deputado João Campos (PSB-PE).

Os pareceres da comissão estão em um documento do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) que foi enviado pelo MEC (Ministério da Educação) à Câmara dos Deputados na semana passada. A lista de questões reprovadas não aparece, apenas os motivos pelos quais foram desaconselhadas pelo grupo.

Segundo O Globo, a comissão ficou responsável por recomendar a não utilização de itens na montagem do exame, mediante justificativa e foi criada em março de 2019 na gestão do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub. Era composta por Marco Antônio Barroso Faria, secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC, Antônio Maurício Castanheira das Neves, diretor de Estudos Educacionais do Inep, e Gilberto Callado de Oliveira, procurador de Justiça do MP-SC (Ministério Público de Santa Catarina).

Depois da avaliação do grupo, os comentários seguiram para o diretor de Avaliação da Educação Básica, Paulo Cesar Teixeira, que emitiu um contra parecer para cada um dos itens. A decisão final da utilização ou não caberia ao então presidente do Inep.

Argumentos da comissão

Em dezembro de 2019, quando divulgou o número de perguntas questionadas pela comissão, o Inep não informou se tinha acatado as recomendações do grupo. O documento a que o jornal teve acesso lista algumas das justificativas da comissão.

Na área de Linguagens, entre as justificativas para barrar questões estão que o item fere sentimento religioso/ ofensiva à força policial baiana", faz "distorção do papel da mulher" ou geraria "polêmicas desnecessárias".

Em Ciências Humanas, com mais itens reprovados pelo grupo, há justificativas como "leitura direcionada da história", "direcionamento do pensamento" e "interferência desnecessária na soberania de outro país".

Em Matemática, um dos itens teria sido reprovado por trazer "polêmica desnecessária em relação à ideia de casal".

Em Ciência da Natureza, uma das questões teria sido desaconselhada porque "induz o jovem a comportamento anti-social (sic)".