Alternativa para entrar na faculdade, Enem seriado fica engavetado
Anunciado pelo MEC (Ministério da Educação) e pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) em maio de 2020 como "mais uma porta de entrada ao ensino superior", o Enem seriado não avançou e não tem nem ao menos uma data para ocorrer.
O modelo foi proposto pelo então ministro da Educação, Abraham Weintraub, e Alexandre Lopes, que na época era presidente do Inep. A avaliação faria parte do novo Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). No final de cada ano do ensino médio, o estudante poderia realizar uma prova.
Com o final do ciclo, cada aluno teria uma nota final que poderia ser usada para a entrada no ensino superior e até em programas como o Prouni (que oferece bolsas em universidades privadas) e o Fies (financiamento estudantil). O modelo auxiliaria os alunos a entrar nas universidades sem, necessariamente, fazer um vestibular.
Na proposta do novo Saeb, o governo previa aumentar também as provas para todas as séries escolares, já que hoje ela avalia apenas alunos do 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental, além do 3º ano do ensino médio.
O UOL questionou três vezes o MEC e o Inep em relação ao Enem seriado. Uma em março, outra em junho e a última em setembro, mas não teve retorno dos órgãos em nenhuma das ocasiões.
Servidores ouvidos pela reportagem, na condição de anonimato, afirmam que o modelo não andou porque a atual gestão (Milton Ribeiro no MEC e Danilo Dupas no Inep) não quer avançar com propostas de seus antecessores. Outros afirmam que a pandemia "atravessou" a pauta.
O UOL teve acesso a uma nota técnica enviada para a presidência da autarquia questionando o objetivo, periodicidade e formato da prova, entre outros pontos.
"Do ponto de vista técnico-pedagógico, a proposta apresenta pontos positivos e negativos que precisam ser levados em consideração para sua manutenção ou não. Basta, cabe salientar, que todo processo de avaliação educacional precisa ser considerado como uma pesquisa científica e que todos os métodos e prazos precisam ser respeitados", informa a nota.
A resposta da autarquia veio por meio de ofício, ao qual o UOL também teve acesso. Nele, o Inep se restringe a informar que foi criado um grupo de trabalho para discutir a questão e também o Novo Enem, que incluirá as mudanças do Novo Ensino Médio.
A ideia era que o Enem seriado fosse aplicado em outubro deste ano e que fosse 100% digital. Na época do anúncio do novo formato, o Inep garantiu que a criação da avaliação não excluiria a edição do Enem tradicional. Mas que, a partir de 2024, as vagas do Enem existente e do Enem seriado seriam diferentes.
Especialistas defendem remodelação do Enem
Para Chico Soares, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e ex-presidente do Inep, a proposta do Enem seriado não era boa. "Ele imita o vestibular seriado, que tem a estratégia de se aproximar dos estudantes de sua região. Faz sentido para universidade de Juiz de Fora, Uberlândia, mas não para um exame nacional", explica.
O ex-presidente do Inep avalia que a proposta "mataria a reforma do ensino médio". "A reforma tem suas críticas, como a forma como o governo optou por discuti-la, mas ela tem uma ideia conceitual muito boa e o Enem precisa ajudar na implementação da reforma", afirma Soares.
Hoje, o Novo Ensino Médio apresenta mudanças na grade curricular dos alunos. Além de ampliar a carga horário de 800 para mil horas, o estudante terá uma parte focada em formação geral básica e a outra nos itinerários formativos, onde ele pode escolher a área que irá se aprofundar.
O Enem seriado é uma análise de quem está em Brasília achando que algo que a UnB [Universidade de Brasília] faz é bom para todo o Brasil. Ótimo que ela faz e que sente responsável pelos estudantes do entorno, mas não faz sentido fazer isso para o país."
Chico Soares, professor emérito da UFMG e ex-presidente do Inep
A presidente do CNE (Conselho Nacional de Educação), Maria Helena Guimarães de Castro, também defende uma remodelação no atual Enem. O foco, segundo ela, também deve ser atualizar o exame tradicional com as mudanças previstas pelo Novo Ensino Médio.
"O melhor no momento é discutirmos o novo desenho do Enem para 2024, antes disso não dá para implementar, já que não terá sido concluído o processo nas escolas", explica a presidente do CNE.
Um cronograma divulgado pelo MEC no primeiro semestre prevê a implementação da reforma em 2022 para o 1º ano, em 2023 para o 2º e em 2024 para o último ano do ensino médio. No final do ciclo, a pasta também promete que o Enem terá sido atualizado.
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