Topo

Psicólogo com atrofia muscular cria método para digitar e conclui mestrado

Cláudio Luciano Dusik defendeu nessa terça-feira (26) dissertação de mestrado na UFRGS  - Thiago Cruz/UFRGS
Cláudio Luciano Dusik defendeu nessa terça-feira (26) dissertação de mestrado na UFRGS Imagem: Thiago Cruz/UFRGS

Flávio Ilha

Do UOL, em Porto Alegre

27/03/2013 06h00

O psicólogo Cláudio Luciano Dusik, 36, defendeu na manhã dessa terça-feira (26) dissertação de mestrado em que aplica a metodologia que ele mesmo criou para superar as limitações de uma doença congênita. Dusik, 36, tem atrofia muscular espinhal, doença genética que causa degeneração dos neurônios motores.

A dissertação “Tecnologia virtual silábico-alfabético: tecnologia assistida para pessoas com deficiência” foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Ele foi o primeiro aluno com deficiência física a concluir mestrado no programa.

Desde a infância, o psicólogo vem paulatinamente perdendo os movimentos de pernas e braços – hoje ele conserva ativos, e ainda assim parcialmente, apenas a cabeça e a mão esquerda. A atividade cognitiva permanece intacta.

A tecnologia exposta na dissertação de mestrado permite que ele utilize o mouse para digitar e acessar conteúdos na internet apenas com o movimento de um dedo. O aplicativo desenvolvido por Dusik, um autodidata em computação, é usado por outras cinco pessoas com limitações físicas a partir de pequenas adaptações.  Atualmente, ele atua como tutor em cursos da Universidade Aberta do Brasil.

Difícil inclusão

Na dissertação, Cláudio detalhou o teclado virtual que utilizava em casa para superar as limitações da doença. Diagnosticado ainda criança, o agora mestre em educação enfrentou inúmeras dificuldades para estudar junto com alunos normais e superar a expectativa de morte iminente. Sob orientação da professora Lucila Maria Costi Santarosa, a dissertação sistematizou a nova tecnologia assistida – o aplicativo de um teclado virtual – e relatou os casos de cinco usurários que se beneficiam do método.

Veja também

  • Marcello Casal Jr/ABr

    DF tem 18 centros de educação precoce para crianças com Down

  • Divulgação

    Escola precisa acolher alunos com síndrome de Down, diz educadora

Claudio, que mora na região metropolitana de Porto Alegre, conta que desenvolveu o sistema para poder concluir os estudos de psicologia, já que a doença se agravou nesse período. O estudante começou a pesquisar alternativas em compêndios de informática que lia nos intervalos da aula e nas madrugadas. O método consiste num programa que seleciona letras, sílabas e palavras na tela a partir de apenas um toque no mouse.

O estudante pretende agora colocar sua criação livremente à disposição de pessoas que, a exemplo dele, necessitam do recurso para poder escrever com apoio do computador e interagir virtualmente.

O uso da cadeira de rodas não impediu Dusik de levar adiante sua pesquisa. Nos deslocamentos de Esteio até Porto Alegre, o estudante contou com a companhia da mãe no transporte especial. Muitas orientações da professora Lucila foram realizadas pelo Skype para que ele não precisasse se deslocar até a Faculdade de Educação. 

A mãe de Cláudio, Elza Arnoldo, festejou a conquista. “Ele é um exemplo de que é possível às pessoas com deficiência vencer o medo, a vergonha e o receio e enfrentar as batalhas do mundo. Quando criança, os médicos diziam que o Cláudio teria de sete a quatorze anos de vida. Vivíamos em luto. Ele foi para a escola só para brincar e ter amigos. Hoje está defendendo seu mestrado”, disse Elza.