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Filho de agricultor ganha 3º ouro em Olimpíada de Matemática

Felipe Costa, 14, é medalha de ouro pela terceira vez na Obmep - Fabio Teixeira/UOL
Felipe Costa, 14, é medalha de ouro pela terceira vez na Obmep Imagem: Fabio Teixeira/UOL

Maria Luisa de Melo

Do UOL, no Rio de Janeiro

07/05/2014 12h30

Nascido em Sítio do Mato, cidade de apenas 12 mil habitantes do interior da Bahia, Felipe Vieira Costa, 14 anos, comemora a terceira medalha de ouro conquistada na Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas). Filho de um agricultor e de uma dona de casa, Vieira começou a se preparar para o concurso depois de assistir a um anúncio na TV.

Ele é um dos 500 medalhistas de ouro da 9ª edição da Olimpíada, cuja premiação acontece na tarde desta quarta (7) no Rio de Janeiro com a presença da presidente, Dilma Rouseff.

"Sempre gostei muito de Matemática. Na primeira vez que eu tentei,  eu só consegui a medalha de bronze e meus pais ficaram tristes. Depois eu prometi para eles que eu ia conseguir pelo menos uma medalha de prata e para a minha surpresa eu consegui um ouro. Hoje em dia, eu já tenho três medalhas de ouro e uma de bronze", diz o estudante do 1º ano do ensino médio, que estuda matemática uma hora por dia.

Para conseguir chegar ao Rio de Janeiro, Felipe saiu da comunidade onde vive às 7h40 da última segunda-feira (5). Depois, seguiu de carro para Bom Jesus da Lapa e pegou um ônibus em Vitória da Conquista. Com o cair da noite teve que pernoitar na casa de um coordenador. No dia seguinte (terça-feira), o estudante seguiu viagem de avião para Salvador. Finalmente, às 13h, conseguiu chegar ao Rio de Janeiro.

Ao contrário de grande parte dos estudantes brasileiros, que considera matemática um assunto complicado, Felipe diz que é possível contornar a dificuldade. "Matemática pode ser um bicho de sete cabeças, mas estou conseguindo driblar isso. Na verdade, nós, alunos da Obmep estamos mostrando que é possível domar isso muito bem. Matemática é fundamental no cotidiano de todos", afirma.

Importância da educação

O incentivo para as inscrições, segundo ele, vieram dos próprios pais, que defendem e educação como ferramenta de transformação social. O pai sustenta a mulher e os dois filhos do casal com a venda de melancia e feijão plantados no terreno da família. A mãe, dona de casa, já chegou a protestar contra o governador da Bahia Jaques Wagner (PT) pedindo maiores investimentos em educação.

"O governador da Bahia foi na minha cidade inaugurar uma estrada e minha mãe não perdeu tempo. Foi atrás dele com um cartaz pedindo maiores investimentos em educação. O governador recebeu a minha mãe e perguntou se eu queria sair de Sítio do Mato para estudar em Salvador, mas eu não quis. Quando eu acabar o ensino médio vou poder sair do país, porque vou ter uma bolsa de estudos por conta das medalhas de ouro que consegui nas olimpíadas. Então, já vou ficar longe da minha família. Por isso eu não pretendo sair daqui até o final do ensino médio", conta o estudante que pretende cursar engenharia da computação e tem como atividade preferida resolver equações e fazer contas.

Felipe também cobra maiores investimentos para a educação: "A educação precisa ser mais bem cuidada. Nas cidades do interior, então, nem se fala. Vejo muito investimento na Copa. Mas depois que a Copa acabar, o que vai nos sobrar?", questiona ele, que classificou como corajoso o ato da mãe de protestar por investimentos.