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Novo reitor da USP terá missão de pacificar comunidade

Em São Paulo

13/11/2013 09h42

Elevada evasão de alunos da graduação, gastos excessivos em relação à receita e sucateamento dos métodos de ensino diante dos avanços da tecnologia da informação. Além de enfrentar os imensos desafios para garantir a excelência da USP (Universidade de São Paulo) nos próximos anos, o novo reitor vai assumir o cargo com a missão de ampliar os canais de diálogo com alunos, funcionários e professores para pacificar a comunidade uspiana já no ano que vem.

Essa é a opinião dos integrantes das quatro chapas que concorrem ao cargo de reitor e vice-reitor da USP na eleição de 19 de dezembro. Cinco dias antes, será divulgado o resultado de uma consulta indicativa (sem efeito decisório) a todos os alunos, professores e funcionários sobre o candidato preferido.

Todos os candidatos admitem iniciar a gestão revendo a forma como são escolhidos os cargos de comando na USP. Dois pontos devem ser reformados. Primeiro, o peso dos votos dos alunos e dos funcionários deve aumentar na escolha do reitor. Atualmente, essas duas categorias dividem 15% dos votos. Cerca de 85% dos votos vêm dos professores. A proporção dos docentes deve cair para a casa dos 70%, como define a LDB (Lei de Diretrizes e Bases).

Em segundo lugar, os candidatos também concordam em dar mais autonomia para a escolha dos diretores de cada uma das unidades. Hoje, o reitor escolhe os diretores a partir de uma lista tríplice enviada pelas faculdades. A ideia é que a escolha passe a ser feita diretamente nas unidades.

Para os observadores do processo eleitoral na universidade, esse consenso em torno da ampliação da participação na USP já é resultado da reforma promovida pelo Conselho Universitário no dia 1º de outubro, liderada pelos diretores das unidades, que mudou as regras da votação este ano.

Mudanças no processo eleitoral

Entre as principais mudanças, este ano a eleição ocorrerá em um único turno, com mais de 1.900 eleitores (85% professores). Até o ano passado, a decisão final era feita no segundo turno por 325 pessoas, integrantes dos conselhos universitários e dos conselhos centrais, permitindo ao leitor maior margem de manobra para fazer o sucessor.

 

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Além disso, os candidatos foram obrigados a inscrever chapas e colocar seus programas no papel. Até a última eleição, todos os professores titulares eram considerados candidatos em potencial, o que facilitava surpresas e manobras políticas. "O discurso consensual favorável à ampliação do diálogo é interessante. Só é preciso ficar atento se não passa somente de discurso para conquistar essa base de votos ampliada", pondera o professor Brasilio Sallum Jr., titular do departamento de Sociologia.

Chapas da situação

Entre as quatro chapas, duas são apontadas como mais próximas ao atual reitor João Grandino Rodas. A chapa 4, "Mantendo o Rumo", encabeçada pelo geógrafo Wanderley Messias, que tem a ex-reitora Suely Vilela como candidata a vice, é considerada como representante da continuidade. "A infraestrutura da universidade melhorou, a USP se internacionalizou e houve avanço nas carreiras de funcionários e professores. Mas é preciso ampliar o diálogo para pacificar a USP", diz.

O economista Hélio Nogueira da Cruz foi vice-reitor na atual gestão. Ele defende que a universidade deve apostar na ampliação da diversidade dos alunos, sem que para isso tenha de perder a excelência. Cruz também acredita ser urgente a ampliação dos canais de diálogos com a comunidade uspiana e aponta a urgência na contenção dos gastos. "Os gastos atualmente estão acima das receitas, o que vem queimando a reserva financeira da universidade. Os investimentos foram importantes, mas devem ser feitos de acordo com a realidade das receitas", diz.

Dois pró-reitores, Marco Antonio Zago (Pró-reitoria de Pesquisa) e Vahan Agopyan (Pró-reitoria de Pós Graduação), estão associados ao movimento dos diretores que liderou as reformas de 1º de outubro, o que associa a chapa à renovação. "É preciso investir na graduação, cuja evasão já alcança os 20%. Também é preciso melhorar as tecnologias de ensino", diz.

O aumento no total de investimentos na graduação também é apontado como o eixo da candidatura do engenheiro José Roberto Cardoso, que foi diretor da Escola Politécnica e o único que não participou da gestão atual. "Como diretor, estou na linha de frente da batalha. Tenho a visão do soldado e não a dos coronéis, como ocorre com meus concorrentes", diz.

A eleição vai definir três vencedores. Apenas um fica de fora da lista tríplice a ser encaminhada ao governador Geraldo Alckmin, que toma a decisão final. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".