Topo

Filosofia

Lógica - Linguagem - Os enunciados podem ser verdadeiros ou falsos

Heidi Strecker, Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação

Os padrões formais do raciocínio correto são expressos na linguagem comum. O raciocínio abaixo é expresso em linguagem comum:

Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.

Mas a linguagem não serve apenas aos raciocínios lógicos, ela tem diversas finalidades.

Para podermos analisar logicamente um enunciado, é preciso que as proposições possam ser verdadeiras ou falsas. Vejamos os seguintes enunciados:

Abram os cadernos.
Passou a chuva?
Que coisa terrível!
O ferro é um metal.

Desses enunciados, o primeiro expressa uma ordem, o segundo é uma pergunta, o terceiro é uma exclamação. Apenas o último enunciado é uma proposição. Perguntas, ordens ou exclamações não podem ser julgadas verdadeiras ou falsas.

O uso expressivo da linguagem, para expressar sentimentos ou manifestar desejos não se aplica à análise lógica. Os enunciados que usamos para dar ordens, pedir conselhos, ou fazer perguntas ou conseguir alguma coisa de nosso interlocutor também não fazem parte do repertório dos enunciados lógicos.

Mas então como é a linguagem usada em lógica? É a linguagem usada para afirmar ou negar alguma coisa, para dizer algo sobre o mundo, para apresentar argumentos. Deve ter uma função informativa ou referencial. O discurso informativo é usado para descrever o mundo e raciocinar sobre ele.

O uso informativo da linguagem envolve um esforço para comunicar algum conteúdo. O discurso passível de análise lógica chama-se discurso apofântico, isto é, que pode ser verdadeiro ou falso. É composto de enunciados que afirmam ou negam coisas.

Vamos ver como o Dicionário Houaiss descreve o termo apofântico:

 

 

 

 

 

 

 

Ordens e pedidos como "abra a porta para mim" não são falsos nem verdadeiros. São ordens e pedidos. Por outro lado, uma afirmação como "a porta é estreita" pode ser verdadeira ou falsa.


Considere as situações abaixo e o uso que fazemos da linguagem em cada caso.


 

  • dar uma ordem;
  • descrever um objeto;
  • narrar um acontecimento;
  • formular uma hipótese científica;
  • cantar;
  • perguntar;
  • contar piadas;
  • agradecer um favor recebido;
  • xingar alguém;
  • rezar.


Destas situações, quais se enquadram num domínio da lógica?

Observamos que duas das situações descritas pertencem integralmente ao domínio dos discursos que podem ser analisados como verdadeiros ou falsos. Trata-se de "descrever um objeto" e "formular uma hipótese científica".

Se eu digo que o céu é azul, isto pode ser verdadeiro ou falso. Da mesma forma, se afirmo que o ponto de ebulição da água é 100° C posso estar fazendo uma afirmação verdadeira ou falsa, isto é, que pode ser ou não comprovada.

Portanto, de todos os enunciados da linguagem comum, a lógica e a ciência trabalham apenas com aqueles que podem ser verdadeiros ou falsos.

Filosofia