Ministro do MEC edita currículo após universidade não reconhecer pós-doc
O novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva, editou novamente o seu currículo Lattes, desta vez após a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, não reconhecer o pós-doutorado do economista. O site do MEC também foi atualizado. Na semana passada, Decotelli também modificou o currículo depois de o reitor da Universidade de Rosário, Franco Bartolacci, afirmar que ele não fez doutorado na instituição argentina.
Na edição de hoje, Decotelli retirou a titulação de pós-doutorado e no resumo deixou apenas: "Tendo trabalhado como professor de gestão de riscos em derivativos no agronegócio em vários cursos no Brasil, construiu um projeto de pesquisa intitulado 'Sustentabilidade e Produtividade na automação de máquinas agrícolas', que foi submetido à Bergische Universitat Wuppertal, na Alemanha, tendo por base pesquisa específica que teve o apoio da empresa Krone".
Em nota, a instituição alemã ao UOL que: "Carlos Decotelli veio para a cadeira da profa. Dra Brigitte Wolf para uma pesquisa de três meses em 2 de janeiro de 2016. Até 2017 ela era professora de teoria do design, com foco em metodologia, planejamento e estratégia na Universidade de Wuppertal e agora é emérita. Ele não adquiriu nenhum título em nossa universidade. A Universidade de Wuppertal não pode fazer nenhuma declaração sobre títulos obtidos no Brasil".
A posse de Decotelli foi adiada pelo governo de Jair Bolsonaro depois de reveladas incoerências em seu currículo. A cerimônia estava marcada para amanhã, às 16 horas, mas segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, o Planalto já avisou que ela não ocorrerá nesta data.
O próprio grupo militar que indicou o ex-professor está constrangido porque foi surpreendido pelos problemas acadêmicos e está avaliando a repercussão do caso. Ele também perdeu o apoio que tinha entre professores da Fundação Getulio Vargas (FGV). Enquanto isso, alas mais ideológicos estão fortemente tentando derrubá-lo antes mesmo de tomar posse.
Contradições no Lattes
As contradições com o currículo do novo ministro começaram na sexta-feira (26), quando o reitor da Universidade de Rosário afirmou à Folha de S.Paulo que Decotelli "cursou o doutorado, mas não finalizou, portanto não completou os requisitos exigidos para obter a titulação de doutor na Universidade Nacional de Rosario".
Semana passada, a assessoria de imprensa do MEC (Ministério da Educação) informou ao UOL que o novo comandante da pasta concluiu os créditos das disciplinas necessárias da universidade argentina, mas a pasta não respondeu se ele tinha defendido a tese de doutorado, necessária para a obtenção do título de doutor.
Já no final de semana, a FGV (Fundação Getúlio Vargas) anunciou que iria apurar a denúncia de plágio na dissertação de mestrado de Decotelli. Em nota, a instituição informou que está localizando o orientador do trabalho para buscar informações a respeito do assunto.
O ministro afirmou na sequência, em nota publicada pelo MEC, que não cometeu plágios em sua dissertação de mestrado na FGV, e afirmou que, se houver omissões, trata-se de "falhas técnicas".
"O ministro refuta as alegações de dolo, informa que o trabalho foi aprovado pela instituição de ensino e que procurou creditar todos os pesquisadores e autores que serviram de referência e cujo conhecimento contribuiu sobremaneira para enriquecer seu trabalho. O ministro destaca que, caso tenha cometido quaisquer omissões, estas se deveram a falhas técnicas ou metodológicas", disse o MEC.
Em post para anunciar o novo titular do MEC, na quinta (25), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, Mestre pela FGV, Doutor pela Universidade de Rosário, na Argentina, e Pós-Doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha.
Na condição de oficial da Marinha, Decotelli é tido como uma nomeação de confiança do núcleo militar do governo. Ao mesmo tempo, é alinhado com o presidente da República em questões ideológicas e se mostra "fiel aos conceitos de guerra cultural", o que pode agradar aos "olavistas" (ala de adeptos do ideólogo Olavo de Carvalho).
Decotelli será o responsável por fazer "a conexão da academia" com a gestão que os militares constataram que faltava na gestão Weintraub.
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