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Docentes de SP passam noite mais fria do ano em frente à prefeitura

3.jun.2014 - Professores em greve estão acampados em frente à Prefeitura de São Paulo desde sexta-feira  - Junior Lago/UOL
3.jun.2014 - Professores em greve estão acampados em frente à Prefeitura de São Paulo desde sexta-feira Imagem: Junior Lago/UOL

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

03/06/2014 14h09Atualizada em 03/06/2014 16h27

Cerca de 30 professores da rede municipal enfrentaram a noite mais fria do ano em barracas no centro de São Paulo. Em greve há mais de 40 dias, a categoria pressiona a administração municipal com o acampamento em frente à prefeitura desde a última sexta (30).

Os professores reivindicam aumento de salário e melhores condições de trabalho. A Secretaria Municipal de Educação diz que já realizou quase 30 reuniões com a categoria em 2014 e que vem adotando que garantem a melhora da qualidade da educação.

Banho e comida

O acampamento começou como uma organização autônoma de alguns professores e passou a ser apoiado pela categoria. A organização providenciou cinco banheiros químicos e, para tomar banho, os manifestantes voltam para casa.

Os docentes se revezam no acampamento -- quando a reportagem esteve lá na manhã desta terça (3), havia cerca de 50 manifestantes. Nos períodos da tarde e da noite, organizam saraus e apresentações musicais.

A alimentação fica por conta do sindicato, que traz marmitas (quentinhas) distribuídas nas horas das refeições. E os professores também trazem comida de casa. Para aplacar o frio, café e chá de gengibre.

“Esse acampamento surgiu mais como uma forma de pressão da categoria para que nossos representantes fossem atendidos pelo governo e que nossas pautas fossem negociadas positivamente”, diz Juliana Ferreira, professora de história da região da Freguesia do Ó, na zona norte da cidade.

Para ela, a rua é pública e constitui a imagem da cidade. “Que imagem o Haddad quer passar com os professores acampados, passando frio?”, pergunta Ferreira.

Eleitores de Haddad

“Eu votei no Haddad por não ter outra opção e por ele ser professor, institucionalizado pelo MEC [Ministério da Educação], representante da educação em nível federal. A categoria botou muita fé nele. Hoje me arrependo”, diz Juliana Ferreira.

Cesar Ferreira, que assim como Juliana é representante da comissão de comunicação do acampamento, acredita que provavelmente a categoria votou em peso no ex-ministro da Educação. “Esse é um sentimento que a gente tem, não houve uma enquete.”

Contudo, ele observa que não interessa a pessoa que está governando, porque ela é transitória. “O que precisamos ter nesse país são políticas públicas de educação, que transcendam o governo de plantão.”

A Copa do Mundo no Brasil é um momento oportuno para reivindicar melhorias, acredita Juliana. “Ainda falam que educação é prioridade. É mentira. Lá em Itaquera a piscina do CEU ficou interditada por três anos. Tiveram que interditar novamente porque os azulejos caíram”, diz. “Agora é nossa oportunidade de dar visibilidade até internacional para nosso movimento, em defesa da educação pública em âmbito federal.”

Reivindicações

Segundo Jomar Souza, professor de história no Ipiranga (zona sul de SP), as reivindicações da categoria não estão restritas à questão salarial. “A gente quer resposta para outros itens, como a questão do direito ao descanso dos professores de CEI [Centro de Educação Infantil], o veto que o governo apresentou que destrói a isonomia entre aposentados e ativos, e a diminuição do número de alunos por sala.”

“O prefeito até agora vem adotando uma postura de descaso junto a essa categoria. Esperamos que no dia de hoje as negociações avancem”, afirma Maria Hildete, uma das diretoras do Sinpeem, sindicato dos professores municipais.

Uma nova assembleia está marcada para acontecer nesta terça-feira em frente à Câmara Municipal, no centro, a partir das 14h30. Nela os docentes decidirão se continuam em greve.

Prefeitura negocia

A prefeitura diz que já concedeu um reajuste de 13,46% para todos os profissionais da educação neste ano, incluindo aposentados, e que ofereceu o abono de 15,38% para os professores que ganham o piso (elevando o salário inicial para R$ 3.000). É esse abono que a categoria exige incorporação imediata para todos os profissionais.

"Agora, a administração municipal se comprometeu a incorporar esse abono de 15,38% para todos os professores, em três parcelas (2015, 2016 e 2017), divididas de acordo com a negociação na data base de 2015 e com as condições orçamentárias da administração", disse em nota.

A administração afirma que se compromete a pagar os dias parados se a greve for encerrada e as aulas forem repostas. "Já foram realizadas medidas que garantem a melhora na qualidade da educação, com o fim da progressão continuada, a avaliação dos alunos e a abertura de 18 pólos da Universidade Aberta do Brasil, voltada a todos os educadores", afirma.