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Na periferia de SP, escola ocupada perdeu aluno por drogas e violência

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

12/11/2015 17h50Atualizada em 13/11/2015 13h36

Falta de muros, mato alto, galpão abandonado e alunos usando drogas em plena luz do dia, mesmo com a presença de policiais militares. Esse cenário encontrado pela reportagem do UOL é a rotina da Escola Estadual Salvador Allende Gossens, em José Bonifácio, bairro na zona leste da capital paulista, segundo funcionários que preferiram não se identificar.

Uma das administradoras da escola que deve fechar por conta da reorganização do Estado afirmou que a violência na região diminui o número de alunos. “Se chegar quatro salas de uma série do ensino fundamental no começo do ano, apenas uma continua em junho”, disse. Segundo ela, ao todo a instituição conta com 20 salas. Dessas, sete estão ociosas no período da manhã e nove, à tarde.

“O período noturno fechou o ano passado por falta de demanda e por conta do entorno. É demais o consumo de drogas”, afirmou outra funcionária que não quis se identificar.

Ao contrário do que está acontecendo na Escola Estadual Fernão Dias, situada em Pinheiros - bairro da zona oeste de São Paulo, o policiamento durante a ocupação é pequeno. A reportagem encontrou cerca de sete policiais — na Fernão, há mais de 50.

A falta de muros permite com que qualquer pessoa possa adentrar os domínios da escola. Por uma trilha dentro do mato alto, é possível descer até um galpão abandonado, que, segundo funcionários e alunos, é ponto constante de usuários de droga. A reportagem presenciou alguns alunos consumindo drogas em uma das laterais da instituição por volta das 15h — mesmo com a PM no local.

Outra diferença entre as escolas ocupadas na capital é que na Salvador Allende há poucos manifestantes do lado de fora da escola. A ocupação começou por volta das 5h30, e os alunos não estão permitindo que a imprensa entre na instituição. Segundo relatos, os estudantes conseguiram entrar por uma das portas do lado da casa da caseira.

Estudantes

Algumas alunas do sexto ano reclamam da falta de segurança, mas dizem que gostam de frequentar a Salvador Allende. As colegas L.K. e S.M., por exemplo, moram no bairro José Bonifácio (onde fica a escola) e vão juntas até o local. A pé, as duas gastam cerca de quinze minutos.

“Eu acho essa escola boa. Só não gosto quando jogam bomba do lado de fora”, afirmou L.K., de 11 anos, sobre a violência. Com o fim da escola, ela acredita que deve estudar perto do serviço da mãe no ano que vem. “Aqui não dá para virar creche. É muito perigoso."

A.X., aluna de 13 anos que está no oitavo ano, afirma que demora o mesmo tempo para chegar à escola e que seu irmão, que está no primeiro ano do ensino médio, também estuda na Allende. Com a reorganização os dois teriam que estudar em escolas diferentes.

A estudante J.N., de 20 anos, é a representante dos manifestantes para falar com a imprensa. Segundo ela, os alunos já se organizaram dentro da ocupação. Alguns são responsáveis por fazer comida, outros por oficinas. Há muitos alunos produzindo cartazes. A ideia é pernoitar no local.

“Tem pouca viatura por aqui porque não tem necessidade de ter mais. Nossa ocupação é pacífica”, analisa. “Polícia parada por aqui é raro.” Segundo ela, os professores foram compreensivos com a ocupação. “Muitos moram perto e têm filhos na escola.”