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PM fecha rua de DP e usa bombas contra estudantes em São Paulo

Camila Neumam, Marcelle Souza e Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

03/12/2015 13h55Atualizada em 03/12/2015 16h34

A Polícia Militar fechou no início da tarde desta quinta-feira (3) uma quadra da rua Deputado Lacerda Franco, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, onde fica o 14º Distrito Policial. Os quatro manifestantes detidos durante um protesto mais cedo na avenida Faria Lima foram levados para o local. A PM isolou a rua logo que os detidos chegaram para evitar que outros estudantes entrassem na delegacia.

Viaturas da Força Tática impediram também o trânsito de pessoas que não trabalhavam na rua e passaram a controlar o trânsito no cruzamento.

Horas antes a PM havia dispersado com bombas de gás lacrimogêneo um protesto de estudantes no cruzamento das avenidas Faria Lima e Rebouças, na zona oeste da capital paulista. Após a primeira ação, um grupo de alunos se juntou e começou a caminhar na Faria Lima. Minutos depois, mais bombas foram lançadas pela PM. Quatro participantes do protesto foram presos na avenida e levados para o 14º DP.

Maiores podem responder por crimes

Em apoio aos detidos, os estudantes foram a pé da Faria Lima até o 14º DP. Impedidos de passar, tentaram furar o bloqueio e, novamente, foram dispersados por bombas de efeito moral lançadas pela PM. A fumaça forte e extensa das bombas espantou alguns manifestantes, que correram para outra quadra onde havia uma feira livre. Os comerciantes do local começaram a fechar as portas e alguns estudantes encurralados pela feira foram agredidos por policiais.

Dos quatro detidos, três são maiores de idade, segundo o delegado Roberto Krasovic, do 14º DP. Advogados ativistas que estavam na delegacia afirmaram que os maiores poderão ser indiciados por associação criminosa, dano ao patrimônio público, corrupção de menores e lesão corporal. Isso porque, entre outros problemas, eles teriam jogado cadeiras em uma viatura e agredido um PM, segundo os policiais que estavam na manifestação.

Advogados ativistas, por outro lado, analisam a possibilidade de entrar com ação contra o Estado por lesão corporal contra os estudantes e ação truculenta por parte da PM. A única mulher entre os detidos foi detida por policiais homens, o que pode configurar abuso, segundo eles.

Bombas assustam população

Durante a manhã de hoje, os policiais já haviam usado bombas de gás contra os manifestantes para tentar impedir que eles fechassem o cruzamento das avenidas Rebouças com Faria Lima, em Pinheiros. O estrondo das bombas assustou os transeuntes da avenida e os comerciantes fecharam as portas de seus estabelecimentos. 

Um estudante de 18 anos chegou a desmaiar por causa do gás. "Com eles [a PM] não tem diálogo, chegamos aqui e fomos recebidos com bomba e spray de pimenta. Tenho problema respiratório, então passei mal na hora, porque a bomba estourou perto de mim. Pedi ajuda dos meus colegas, que na verdade são meus irmãos. A gente vai parar o mundo". Assim como ele, grande parte dos manifestantes é secundarista que está na ocupação da Escola Estadual Fernão Dias, na zona oeste de São Paulo. Também há universitários no grupo.

Os estudantes fecharam por alguns minutos também o cruzamento da avenida Faria Lima com Cidade Jardim, causando a ira de alguns motoristas. 

Reorganização escolar

A reorganização da rede estadual de ensino foi anunciada pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB-SP) em setembro. A medida fecha 93 escolas e reorganiza as restantes por ciclo único. Deste modo, estudantes do ensino fundamental ficam em unidades diferentes do ensino médio.

Desde o anúncio da reorganização, alunos, pais e professores têm realizado protestos em vários pontos do Estado. Eles argumentam que o objetivo da reestruturação é cortar gastos e temem a superlotação das salas de aulas, além de alegarem a ausência de diálogo durante o processo. Cerca de 200 escolas estão ocupadas por estudantes.