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Somos tão capazes quanto qualquer um, diz vencedora de prêmio de tecnologia

Deborah durante viagem em Seattle (EUA) - Bruna Souza Cruz/UOL
Deborah durante viagem em Seattle (EUA) Imagem: Bruna Souza Cruz/UOL

Bruna Souza Cruz*

Do UOL, em São Paulo

10/08/2016 06h00

Superar a sensação de isolamento na universidade foi um dos maiores desafios de Deborah Mesquita, 25. Agora, cursando o último ano de ciências da computação na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a jovem resume o período como uma batalha diária -- e não só pela exigência nos estudos, mas por ainda ser mulher dentro de um universo predominantemente composto por homens.

Decidida a encarar mais um desafio, Deborah resolveu participar de uma competição online mundial de programação da Microsoft, no começo deste ano. Em dois meses, ela desenvolveu um jogo educativo para crianças e acabou vencendo sua categoria. O prêmio foi uma viagem para participar da final da competição de estudantes Imagine Cup 2016, realizada no final de julho em Seattle (EUA). Só dois projetos no mundo tiveram esse reconhecimento.

Apesar de não ter sofrido diretamente nenhum tipo de preconceito ou assédio na universidade, a estudante ressalta que não foi e não é nada fácil.
 
“Você fica muito sozinha porque não tem outras meninas para compartilhar certas experiências, desafios. E a gente sabe que tem muita gente que não acredita no que podemos fazer [por sermos mulheres]. Fora as piadinhas machistas nas aulas. Mas a gente tem que superar e estamos aí”, afirmou.

“Não vou dizer que aprender a programar é fácil. Você tem que ralar muito, mas é gratificante, e a gente consegue. Não é porque você é mulher que você não vai conseguir programar. Isso não existe”, acrescentou.

A universitária reforça que não se trata de defender que as mulheres são melhores que os homens. É apenas exigir o direito à igualdade [nas relações de estudo e trabalho]. “Não é para existir essa diferença. Somos tão capazes quanto qualquer pessoa.”

Única brasileira premiada

Com a publicação de seu jogo educativo, Deborah foi a única mulher brasileira a vencer o prêmio na edição deste ano.“Foi bem mais fácil [participar da competição do que ser mulher na área] porque lá não importava se eu era menina ou não. Era só o resultado do projeto e pronto. No dia a dia as pessoas já vão julgar qualquer coisa que eu apresente/crie só por ser menina. É bem mais difícil superar isso”, destacou.

Alessandra Faria de Castro, 45, acabou de se formar em jogos digitais na PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas) e, apesar ter sido uma das únicas mulheres durante toda a sua graduação, acredita que esse cenário já está mudando. “Os cursos realmente possuem mais homens, mas acho que as mulheres estão começando a querer mais [e se sentir mais capazes].”

Para eles, elas fazem diferença

Érico Grasso, 26 anos, estudou jogos digitais com Alessandra e concorda: “Acho que as mulheres têm tido mais interesse pela área e se sentido mais à vontade nos cursos na medida em que ganham espaço no mercado de trabalho de TI [Tecnologia da Informação]. A área só tem a se beneficiar com a diversidade.”

“Tem lugar para todo mundo”, ressaltou Gustavo Magella, 27, que trabalha com tecnologia há dez anos.

“Há muito tempo que a mulher vem lutando para ser melhor inserida no mercado de trabalho. Na tecnologia não podia ser diferente. Adoro trabalhar com elas. Elas pensam mais 'fora da caixa'”, acrescento o pós-graduando, único brasileiro premiado como destaque de 2016 de um programa da Microsoft voltado para alunos das áreas de tecnologia (o Microsoft Student Partners).

* A jornalista acompanhou o evento em Seattle (EUA) a convite da Microsoft