Topo

Após aprender português, refugiado sírio comemora vaga em faculdade pública

Emmanuel deixou a Síria por conta da guerra - Arquivo pessoal
Emmanuel deixou a Síria por conta da guerra Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

14/02/2017 04h00Atualizada em 14/02/2017 15h05

O jovem sírio Emmanuel Ouba, 22, está animado com a volta às aulas no curso de medicina veterinária. Natural de Damasco, na Síria, o estudante inicia em breve o segundo semestre da graduação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas, no campus Muzambinho (MG). O estudante ainda comemora a aprovação no vestibular realizado no meio do ano passado.

Por causa da guerra, que atinge seu país há mais de cinco anos, o rapaz veio sozinho para o Brasil em busca de melhores condições de vida e de oportunidades para estudar. Na Síria, deixou os pais, a família e os amigos.

“Com a guerra, é um perigo de sair de casa. Até em casa tem perigo. Sabe essa perseguição psicológica também? Meus pais queriam que eu saísse de lá para ficar mais em segurança”, relembrou. O jovem até chegou a estudar biologia na Universidade de Damasco, mas teve que a abandonar.

Ao chegar em São Paulo, em 2015, o desejo de retomar os estudos o acompanhou. Mas a falta de conhecimento do português era um dos principais desafios na época. Foi então que Ouba se matriculou em cinco cursos de língua portuguesa, um deles oferecido pelo Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado), e começou a se dedicar ao idioma. Ele lembra que a necessidade foi a grande responsável por sua dedicação.

“Sempre quis veterinária. Meu avô de lá [Síria] era veterinário. Acho que é porque gosto muito de animais e de medicina. Aprender português foi difícil sim, mas aprendi porque precisei mesmo. Nem todo mundo fala inglês, muito menos árabe [aqui no Brasil]. Mas eu não falo que aprendi [o português], falo que estou aprendendo”, brincou.

Em praticamente um ano, Ouba aprendeu o português, se aperfeiçoou na língua e ainda conseguiu passar no vestibular numa instituição pública de ensino. “Quando cheguei ao Brasil, queria fazer faculdade, mas não sabia que ia entrar depois desse curto período de tempo. Pensei que que iam ser dois, três anos para eu entrar na faculdade por causa do vestibular”, contou animado.

Ao todo, foram três meses de cursinho antes do vestibular, para o qual, segundo ele, estudou "como todo aluno de cursinho estuda". Para se manter e conseguir guardar dinheiro, o jovem dividia seu tempo trabalhando como professor de inglês em duas escolas de idioma na capital paulista. Em Minas, seu sustento é mantido com ajuda de verba pública.

“O curso [em Minas Gerais] é integral. Faço muitos estágios não remunerados, não tem como trabalhar. Mas o Instituto me dá um auxílio estudantil, que me ajuda a sustentar, e uso um pouco do dinheiro que guardei em São Paulo. Não sobra nada, mas sem o auxílio eu não estaria aqui”, afirmou.

Mesmo sentindo saudades da família e dos amigos, a expectativa do universitário para o futuro é concluir a graduação e trabalhar no Brasil.

“Estou gostando muito. As coisas boas são a qualidade, que é muito alta, a biblioteca e o refeitório, que tem comida quase de graça e é muito boa. Não tem coisas ruins”, concluiu.