Por coronavírus, Senado aprova adiamento do Enem e de vestibulares
O Senado aprovou hoje (19) o projeto de lei que adia a aplicação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2020 e de demais processos seletivos de acesso à educação superior, como vestibulares, devido à pandemia do novo coronavírus. O texto segue agora para votação no plenário da Câmara dos Deputados.
Os senadores aprovaram também uma emenda que determina que o Enem, tanto na versão impressa quanto digital, disponibilize às pessoas com deficiência toda a acessibilidade necessária para a realização do exame.
A inclusão foi proposta pelo senador Romário (Podemos-RJ), pois, atualmente não há previsão de recursos de acessibilidade no Enem digital, informou. Por exemplo, prova em braile, prova ledor, tradutor intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais), vídeo prova em Libras, prova com letra ampliada ou super ampliada, uso de leitor de tela, guia-intérprete, auxílio para a leitura, auxílio para transcrição, leitura labial, tempo adicional, sala de fácil acesso e mobiliário acessível.
De autoria da senadora Daniella Ribeiro (PP-PB), o projeto prevê a prorrogação automática "das provas, exames e demais atividades de seleção para acesso ao ensino superior" em casos de calamidade pública ou de comprometimento do funcionamento regular das instituições de ensino do país.
Segundo o parecer do projeto elaborado pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF), essa prorrogação se dará até que estejam concluídas as atividades do ano letivo no ensino médio em todo território nacional. Pelo parecer, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) fica autorizado a realizar todas as etapas preparatórias do Enem de 2020.
Se aprovado na Câmara e sancionado deste modo pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o projeto adia o Enem marcado para novembro, porque o Brasil está em estado de calamidade pública até 31 de dezembro deste ano em razão da pandemia.
O projeto foi aprovado por 75 votos a favor e 1 contra. O único senador a se opor foi Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho de Jair Bolsonaro. O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), orientou a bancada do partido a votar a favor do projeto, mas, na hora de votar individualmente, disse ter se equivocado e apertado o "não" sem querer. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também logo percebeu o erro e pediu que o voto dele fosse corrigido, proclamando assim o resultado de 75 a 1.
Entidades estudantis, secretários de educação e reitores de instituições de ensino defendem o adiamento do exame sob a justificativa de que nem todos os estudantes têm condições sociais e financeiras de manter os estudos durante a pandemia ou nem sequer têm acesso às ferramentas necessárias para o ensino a distância, como celular e computador com acesso à internet.
"A realidade educacional brasileira é muito desigual e soluções desse naipe [aulas online] apenas acentuam as diferenças existentes. Como se sabe, a esmagadora maioria dos estudantes brasileiros depende da escola pública, que, em geral, possui conhecidas deficiências", escreveu o relator do projeto no Senado, Izalci Lucas.
"Lembremos, que nossos alunos das escolas públicos não tiveram sequer dois meses de aula completados neste ano letivo. Seria muito injusto submetê-los à já desigual concorrência que caracteriza os processos de acesso à educação superior", acrescentou.
O líder do governo no Senado, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse que tentou construir um acordo entre o governo e o Senado para o projeto, mas um entendimento não saiu a tempo antes da votação.
Ele queria estabelecer uma data limite à realização do Enem e afirmou que tentou apresentar uma emenda com essa proposta, mas não conseguiu fazê-la em tempo hábil.
A senadora Daniella Ribeiro criticou a postura do ministro da Educação, Abraham Weintraub, perante os pedidos de adiamento do Enem e ressaltou que a defesa da postergação da prova apareceu como um dos assuntos mais comentados nesta terça-feira no Twitter.
"O que nós estamos fazendo não prejudica os outros estudantes. Isso é apenas para não reforçar a desigualdade que já existe. Qual aluno hoje tem condição de estar em casa estudando, de pagar uma plataforma de streaming, de pagar um YouTube, de ter uma aula de educação a distância, ou estudo de qualquer jeito? Livros? Que livros eles receberam? Nenhum. Quem é o professor, o autodidata? Quantos são autodidatas para estudarem sozinhos matemática, física e química?", declarou.
O adiamento do Enem é defendido também pela Frente Parlamentar Mista de Educação e pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação.
Governo defende manutenção do Enem em novembro
Apesar da crise sanitária e da suspensão das aulas presenciais em todo o país há cerca de dois meses, o governo Bolsonaro tem defendido a manutenção do Enem em novembro.
O ministro da Educação chegou a acusar "a esquerda" de agir para que o exame não aconteça. Em reunião com parlamentares na semana passada, Weintraub afirmou que o Enem não foi feito para resolver o problema da desigualdade no país e reafirmou que manteria o exame em novembro.
O ministro sinalizou, no entanto, que uma eventual ordem do Ministério da Saúde poderia modificar as datas do Enem.
Sob pressão, Weintraub usou as redes sociais para dizer que o ministério fará, na última semana de junho, uma consulta aos inscritos no Enem para saber se os candidatos são favoráveis à manutenção da data, ao adiamento do exame por 30 dias ou à suspensão até o fim da pandemia. O mais provável é que o Congresso já tenha deliberado sobre o assunto até o final de junho.
A reportagem apurou que a ideia foi debatida com o presidente Jair Bolsonaro. Na semana passada, o presidente afirmou pela primeira vez que a aplicação do Enem pode ser atrasada, mas que o exame deve ser realizado ainda este ano.
"Nosso posicionamento é saber a opinião dos principais interessados, perguntando diretamente aos estudantes inscritos", escreveu Weintraub. Até hoje, segundo o MEC, o Enem tem 4 milhões de inscritos. O prazo para cadastro vai até sexta-feira (22).
"O melhor era que pudesse vir do presidente uma decisão antes que o Senado e a Câmara tomassem a decisão de votar para não parecer que é uma coisa contra o governo. Essa demanda de adiamento do Enem vem de todo o Brasil", disse.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, defendeu a prerrogativa da Casa de votar o projeto, porque, segundo ele, os senadores buscaram uma conciliação com o governo "por mais de 40 dias", sem sucesso.
O líder do PDT no Senado, senador Weverton Rocha (MA), disse que Abraham Weintraub "não tem um pingo de sensibilidade para entender o que está acontecendo de verdade no Brasil" e falou que, "infelizmente, no meio de uma guerra contra um vírus como o coronavírus, ainda temos que ouvir as asneiras que profere durante todo o dia".
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