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No dia do professor, docentes de SP temem ficar sem trabalho

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

15/10/2015 17h43Atualizada em 16/10/2015 18h32

Desde que foi anunciado o projeto de reestruturação das escolas estaduais paulistas, alguns professores que lecionam em mais de uma escola temem ficar sem trabalho. Foi o que alguns profissionais contaram à reportagem do UOL durante a manifestação desta quinta (15). Eles têm uma característica em comum: têm mais de um cargo ou lecionam em mais de uma escola.

Neide Todeschini, 54, tem dois cargos como professora de matemática na E.E. Prof. Lourival Gomes Machado, na zona oeste de São Paulo: um no ensino médio e outro no fundamental 2. Caso a instituição passe a ter apenas um ciclo -- ou seja, tenha apenas alunos do ensino fundamental 1, fundamental 2 ou ensino médio --, ela teria que dar aulas em duas escolas para manter os dois cargos.

"As aulas são atribuídas conforme a classificação. Sou nova no meu segundo cargo e, por isso, minha pontuação é baixa. Corro o risco de ficar sem aula", acredita a professora Neide para quem a reestruturação diminuiria o número de classes. Até o momento, a secretaria estadual de Educação não divulgou detalhes do plano.

A colega Ana Talina Lourenço, 46, que trabalha na E.E. Almeida Júnior, no Butantã faz uma previsão pessimista: "A professora Neide mora perto da escola. Se a outra for muito distante, ela teria que se exonerar de um dos cargos que ela passou com muito custo".

A falta de trabalho também é uma consequência temida pela professora de história Gabriela Sales, 32. "Essa medida vai diminuir as nossas opções e levar muitos professores a perderem o cargo por não conseguirem mais acumular."

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo afirmou, por meio de nota, que nenhum professor da rede ficará sem atribuir suas aulas em 2016. Além disso, os docentes substitutos terão seu contrato de trabalho estendido no ano que vem.

Gabriela, que dá aula em três escolas estaduais, acredita que o governo tenta "mascarar" a situação -- no caso, o fechamento das escolas. "Eles estão criando uma situação ilusória (...) dizendo que não vão fechar, mas sim disponibilizar", diz. "No interior, não tem escola a 1,5 km de outra. E dizer 'disponibilizar' é um eufemismo, porque naquele lugar não vai ter mais aula, mas sim outro tipo de atendimento."

Segundo a Secretaria, a reorganização não tem como objetivo o fechamento de escolas. A pasta informa apenas que alguns estabelecimentos podem ser "disponibilizados" para outras finalidades educacionais, como creches e escolas técnicas. A previsão é que 1 milhão de alunos sejam transferidos para unidades que ficam a uma distância de 1,5 km da atual escola segundo a pasta.

Falta de informação

A professora Ana comenta que a diretoria de ensino da região delas não divulgou a lista das escolas que serão impactadas com o projeto do governo estadual. "Não sabemos para onde vamos", reclama a professora.

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo insiste que a decisão ainda não foi tomada e não há lista de escolas que serão fechadas. A Apeoesp fez um levantamento entre seus associados e montou uma lista com mais de 150 escolas que teriam recebido aviso de que seriam impactadas pela reestruturação.

A pasta prevê mais 360 escolas de segmento único em 2016, um aumento de 25% -- atualmente há 1.443 escolas desse tipo. No dia 14 de novembro, a secretaria fará um evento para esclarecer aos pais e alunos o processo de reorganização e explicar como serão feitas as transferências e quais escolas receberão cada um.  

Ana acredita que a medida vai aumentar a violência dentro da sala de aula e o índice de evasão escolar. "O que melhora a qualidade da educação não é ciclo único, mas sim investimento. É preciso reduzir o número de alunos por sala, ter uma boa infraestrutura, professores bem preparados e bem remunerados e diálogo com a comunidade", avalia.

Gabriela concorda e acredita que o melhor para o aluno é que haja continuidade. "O aluno já está inserido na escola, já conhece as regras daquele espaço social", diz.