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Ensino Fundamental

Português - Gravar e transcrever

Jorge Viana de Moraes

Gravar e transcrever

Ponto de partida

Gravar e transcrever uma conversa informal entre pessoas com a autorização prévia delas, tomando o devido cuidado para posicionar corretamente o gravador, a fim de captar um som de qualidade. Da mesma forma, transcrever a gravação com bastante cuidado, para não cometer erros que possam desconfigurar o texto falado, tornando-o sem utilidade para fins de análise e/ou outras atividades. Para a gravação não é necessário um gravador tradicional. A atual tecnologia nos provê dos mais variados aparelhos: celulares, ipods, mp3, mp4, etc.

Objetivos

1) Levar os alunos à prática da pesquisa no âmbito escolar.

2) Iniciar os alunos na sondagem e reflexão das relações entre fala e escrita.

3) Proporcionar aos alunos técnicas de transcrição da fala, que por si só vale todo o esforço da atividade, na medida em que coloca o aluno em contato direto com as particularidades da modalidade falada da língua, que, por ser tão óbvia, cotidiana, torna-se para nós erroneamente banal.

4) Montar com os alunos um corpus que sirva para atividades de retextualização da fala para a escrita.

Estratégias

1) Peça aos alunos que gravem conversações espontâneas.

2) Depois da gravação, peça que transcrevam as gravações, usando como modelo o sistema de transcrição do Projeto NURC, mostrado na tabela abaixo.

3) Se tiverem uma câmera, para filmar a conversa, a atividade ficará mais completa, porque ela mostra o ambiente, os olhares, os gestos, o movimento dos corpos dos interlocutores.

Comentário

É importante que a conversa seja realmente espontânea, pois só assim será possível captar a fala das pessoas num momento de total informalidade, o que deixará transparecer a real natureza da língua falada.

Normas para transcrição

OcorrênciasSinaisExemplificação*
Incompreensão de palavras ou segmentos( )do nível de renda... ( ) nível de renda nominal...
Hipótese do que se ouviu(hipótese)(estou) meio preocupado (com o gravador)
Truncamento (havendo homografia, usa-se acento indicativo da tônica e/ou timbre)/e comé/ e reinicia
Entoação enfáticamaiúsculaporque as pessoas reTÊM moeda
Prolongamento de vogal e consoante (como s, r):: podendo aumentar para :::: ou maisao emprestarem os... éh::: ...o dinheiro
Silabação-por motivo tran-sa-ção
Interrogação?eo Banco... Central... certo?
Qualquer pausa...são três motivos... ou três razões... que fazem com que se retenha moeda... existe uma... retenção
Comentários descritivos do transcritor((minúsculas))((tossiu))
Comentários que quebram a seqüência temática da exposição; desvio temático-- --... a demanda de moeda -- vamos dar essa notação -- demanda de moeda por motivo
Superposição, simultaneidade de vozes{ ligando as linhasA. na { casa da sua irmã B. sexta-feira? A. fizeram { lá... B. cozinharam lá?
Indicação de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto. Não no seu início, por exemplo.(...)(...) nós vimos que existem...
Citações literais ou leituras de textos, durante a gravação""Pedro Lima... ah escreve na ocasião... "O cinema falado em língua estrangeira não precisa de nenhuma baRREIra entre nós"....
  • * Exemplos retirados dos inquéritos NURC/SP n. 338 EF e 331 D2.

Observações

1. Iniciais maiúsculas: só para nomes próprios ou para siglas (USP etc.)

2. Fáticos: ah, éh, eh, ahn, ehn, uhn, ta (não por está: tá? você está brava?)

3. Nomes de obras ou nomes comuns estrangeiros são grifados.

4. Números: por extenso.

5. Não se indica o ponto de exclamação (frase exclamativa).

6. Não se anota o cadenciamento da frase.

7. Podem-se combinar sinais. Por exemplo: oh:::... (alongamento e pausa).

8. Não se utilizam sinais de pausa, típicos da língua escrita, como ponto-e-vírgula, ponto final, dois pontos, vírgula. As reticências marcam qualquer tipo de pausa, conforme referido na Introdução.

Referência bibliográfica

PRETI, Dino e URBANO, Hudinilson (Org). A linguagem falada culta na cidade de São Paulo. São Paulo: T. A. Queiro, Fapesp, 1990. v. 4.

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