Querido filho

NOTA 10,0

Querido filho,

Fiquei sabendo que você terá seu primeiro debate público na próxima semana. Eu já conheço bem suas ideias antifeministas e sei que a feminista que debaterá com você é extremista. Sendo seu pai, sinto que é meu dever te lhe dar alguns conselhos.

Quando for debater, mantenha a calma e não ataque a argumentadora oponente, mas sim seus argumentos. Esse é o primeiro passo para que o debate seja civilizado e produtivo. Use a razão e a lógica. Caso a feminista faça o oposto disso, e, por exemplo, descarte os seus argumentos meramente por você ser homem, branco, heterossexual e cristão, explique ao público que ela está usando a famosa falácia ad hominem.

Evite e aponte, meu querido filho, todas as falácias lógicas. Falácias destroem o bom debate. Caso a feminista se esquive das críticas contra o feminismo feminismo, afirmando que aquilo que está sendo criticado por você chama-se "femismo" e não "feminismo", avise-a de que ela está utilizando a falácia do escocês de verdade.

Mantenha-se firme também na defesa pela da liberdade de expressão. Essa é outra regra de ouro para o bom debate. Não importa o quão verbalmente agressiva seja a feminista ou quão repulsivas pareçam ser suas ideias, lembre-se que ela possui o direito de falar tudo aquilo que realmente pensa. Se tudo o que ela fala for de fato tão horrível e irracional assim, então será fácil para você desconstruir publicamente os argumentos dela. Lembre-se daquilo que sempre te lhe ensinei: tentar calar o debatedor adversário à força, como se estivesse cometendo um crime por expor o que pensa, é para aqueles que não conseguem convencer os demais através do uso da lógica e da razão, então precisam fazer isso através de meios coercitivos.

Portanto, filho, se alguém nesse debate utilizar constantemente argumentos falaciosos ou tentar calar à força o adversário, alegando estar combatendo um "discurso de ódio", então que esse alguém não seja você. Não podemos controlar a feminista com quem você debaterá, mas você tem controle sobre si próprio. Faça a sua parte e tenha um bom debate!

Com carinho,

Seu amado Pai.

Comentário geral

 

Como o Banco de Redações do UOL seleciona as redações a serem corrigidas e comentadas por sorteio, há que se comentar esta, que não parece ter sido feita por um adolescente do ensino médio, não só pela ausência de erros significativos, mas pelo conhecimento "técnico" da argumentação lógica, o que se evidencia nas referências ao argumento ad hominem e à falácia do escocês de verdade. Contudo, o que tem de ser comentado é o texto e não sua autoria. Mais ainda: é o texto enquanto uma redação desenvolvida a partir da proposta apresentada pelo Banco de Redações.

Nesse sentido, essa redação merece a nota máxima, independentemente da posição ideológica provocativa que o autor claramente adota. Merece a nota máxima por cumprir todos os requisitos da proposta, ou seja: é um texto em forma de carta, de caráter argumentativo, que versa sobre o modo de se conduzir em um debate, evitando que ele se torne um bate-boca. Está bem escrito e totalmente de acordo com os padrões da norma culta.

Convém, de qualquer modo, advertir o autor de que sua postura antifeminista pode ser considerada preconceituosa, uma vez que ele não apresenta argumentos contra o feminismo (extremista ou não) e considera, de antemão, a feminista como alguém que só pode se defender atacando o oponente e recorrendo a falácias. Além disso, a caracterização da feminista não é exclusivamente relacionada ao feminismo, pois ela tentaria desqualificar seu oponente não só pelo fato de ele ser homem, mas também por ser branco, heterossexual e cristão. Uma feminista não é necessariamente negra, homossexual e anticristã. Há no texto, portanto, o uso de um estereótipo que é falacioso.

Finalmente, é importante notar ainda que o autor não esclarece bem os conceitos das falácias que apresenta ao seu suposto filho. No caso do argumento ad hominem, ele ainda deixa entrever do que se trata, uma vez que mostra tratar-se de um argumento que aponta os defeitos de quem está argumentando e não os de seu argumento propriamente dito. No caso da falácia do escocês de verdade, por outro lado, é muito difícil entender em que ela consiste apenas pelo exemplo apresentado pelo autor, opondo "feminismo" e "femismo".

De resto, caso o texto seja de fato o de um estudante do ensino médio que pretende se submeter ao Enem ou a outros vestibulares, é o caso de dar-lhe parabéns pelo bom texto, em que existe somente um erro gramatical (cometido duas vezes): o uso do te, em lugar de lhe, pois o suposto pai se refere ao filho majoritariamente como você, não como tu. As outras indicações em verde podem ser encaradas como sugestões para aprimorar o texto e não como correções propriamente ditas. A própria concepção de uma carta de um pai ensinando o filho a debater é excelente, por ser ao mesmo tempo adequada e bem-humorada.

 

Competências avaliadas

Itens Nota
Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita. 2,0
Compreender a proposta da redação e aplicar conceito das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. 2,0
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. 2,0
Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. 2,0
Elaborar a proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural. 2,0
Nota final 10,0
Saiba como é feito a classificação das notas
2,0 - Satisfatório 1,5 - Bom 1,0 - Regular 0,5 - Fraco 0,0 - Insatisfatório

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