Redações Corrigidas - Março/2018 Violência e drogas: o papel do usuário
Devido à explosão da violência, principalmente à relacionada ao tráfico de drogas, o Rio de Janeiro está sob intervenção na Segurança Pública, com o Exército nas ruas e um general no comando. A questão do comércio de drogas ilegais pode ser examinada sob diversos pontos de vista: social, econômico, político, de saúde pública, etc. No âmbito econômico, por exemplo, o tráfico está vinculado à célebre lei da oferta e da procura. Em função disso, há quem responsabilize os usuários de drogas pela violência disseminada pelos traficantes. No entanto, há também quem os isente de culpa, atribuindo a violência ao tráfico, à proibição e à ilegalidade, que, se fossem abolidos, eliminariam a criminalidade. Leia os textos que acompanham essa proposta de redação e, a partir disso, redija uma dissertação argumentativa, expondo sua opinião: a violência do tráfico é consequência de uma política proibicionista, de combate às drogas, ou da dependência dos consumidores, que procuram os tóxicos e mantêm a contínua necessidade de oferta?
Quem matou ele?
Madrugada no morro. Um grupo de policiais ataca de surpresa uma boca de fumo e mata dois traficantes. O Capitão Nascimento pega um dos consumidores pelos cabelos e o obriga a pôr o rosto nos buracos de bala no peito do bandido morto. O rapaz, apavorado, diz que é estudante, na tentativa de se defender.
– Quem matou ele? – pergunta o capitão, aos berros.
– Não sei – responde o rapaz.
– Não sabe? Quem matou ele?
– Vocês, foram vocês!
– Nós? Quem matou ele foi você! A gente vem aqui limpar a m* que você faz!
Não é à toa que essa cena, do filme Tropa de Elite, é uma das que mais chocam os espectadores. Ela toca numa questão crucial do tráfico: a taxa de responsabilidade dos consumidores. Uma pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas aponta o dedo para uma parcela da elite. Maconha e cocaína no Brasil são bens de luxo, para a população com maior poder aquisitivo. De acordo com o levantamento, o consumidor-padrão de drogas no Brasil é homem, tem entre 20 e 29 anos, é da classe média alta e mora com os pais. “Estatisticamente, a visão de Tropa de Elite é correta: quem financia o tráfico é a classe média”, diz o economista Marcelo Neri, coordenador da pesquisa.
Embora ilegal, o tráfico de drogas não infringe outro tipo de lei – a do mercado. Se não houvesse comprador, não haveria venda. O consumidor garante o comércio, mas não é ele quem produz a violência. Drogas são vendidas no mundo todo. Nas ruas de Berlim ou Lisboa traficantes oferecem suas mercadorias para moradores e turistas. Mas vender a droga não implica dominar comunidades inteiras, como os chefões fazem no Rio de Janeiro.
Culpar o consumidor está em desuso no Brasil. Pela legislação em vigor desde 2006, quem for apanhado consumindo será julgado num juizado especial, não mais criminal. A pena, que antes podia chegar a seis anos de prisão, agora é de prestação de serviços comunitários. O Brasil segue, assim, o pensamento predominante em vários países europeus, como Espanha, Portugal, Bélgica e Alemanha. A Suécia foi pelo caminho inverso: levou para a cadeia vendedores e consumidores, e hoje o número de drogados do país é um terço menor que no restante da Europa.
Revista Época (Editado)
A culpa é da proibição
"Quem financia o tráfico não é quem fuma, é quem proíbe"
Dizeres de um cartaz exibido numa manifestação pela descriminalização da maconha em São Paulo.
O ex-presidente e o STF
Fernando Henrique Cardoso disse esperar que a crise no sistema prisional impulsione o debate sobre a descriminalização do consumo de drogas no Brasil. Em entrevista ao blog, os ex-presidente tucano declarou que caberá ao Supremo Tribunal Federal dar “os primeiros passos”. Corre no Supremo uma ação sobre a posse de drogas para uso recreativo. Três ministros votaram a favor da descriminalização de todas as drogas (Gilmar Mendes) ou apenas da maconha (Edson Fachin), ainda que com a fixação de um limite de 25 gramas para a posse (Luis Roberto Barroso).
Veja trechos da entrevista:
– O senhor aprovaria, portanto, a produção de maconha para consumo próprio?
Sim. Qual é a minha preocupação? A droga, na prática, é livre nas mãos do bandido. Então, o Estado precisa começar a descriminalizar o que for razoável e, depois, regulamentar. É melhor ter algum tipo de regulamentação do que simplesmente deixar como está hoje.
– Hoje existe a proibição legal, não?
Sim, é proibido. Mas a droga circula. E quem vai para a cadeia são os pobres usuários, sobretudo mulheres. (...)
– De que maneira a deterioração do sistema prisional interfere no debate sobre a descriminalização das drogas?
O foco do debate está invertido. Como tem muita gente nos presídios, algumas pessoas dizem: “Vamos descriminalizar porque isso alevia a pressão nas prisões.” Tudo bem, é verdade. Pode ter esta consequência. Mas não resolve por completo o problema da violência dentro dos grandes presídios. Essa violência é fruto de uma luta pelo controle das rotas de drogas. E isso vai continuar existindo, porque o Brasil é um grande consumidor de drogas. Sem mencionar o fato de que o Brasil é rota de passagem de drogas para outros países.
Blog do Josias (Editado)
Observações
Seu texto deve ser escrito na modalidade formal da língua portuguesa.
Deve ter uma estrutura dissertativa-argumentativa.
Não deve estar redigido sob a forma de poema (versos) ou narração.
A redação deve ser digitada e ter, no mínimo, 800 caracteres e, no máximo, 3.000 caracteres.
De preferência, dê um título à sua redação.
Envie seu texto até 25 de março de 2018.
Confira as redações avaliadas a partir de 1 de abril de 2018.
A redação pode ser enviada para o e-mail: bancoderedacoes@uol.com.br
Redações corrigidas
Os textos desse bloco foram elaborados por internautas que desenvolveram a proposta apresentada pelo UOL para este mês. A seleção e avaliação foi feita por uma equipe de professores associada ao Banco de redações.
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