REDAÇÕES CORRIGIDAS - Julho/2018 Por que os jovens querem deixar o Brasil?
A canção do sabiá
Com apenas 20 anos de idade, o poeta romântico Gonçalves Dias compôs, no século XIX, a “Canção do exílio”, expressão do sentimento nacionalista de retorno à pátria amada. Caso o poeta vivesse no Brasil atual, dificilmente rogaria à a Deus para que não morresse antes de voltar aos trópicos. Segundo pesquisa Datafolha, a maioria dos jovens brasileiros – entre 16 a 24 anos – querem deixar o país, abandonar as palmeiras e os sabiás sabiás, em nome do sucesso que raramente encontram cá, mas é abundante lá. Afinal, o que motiva esses jovens?
O Brasil foi construído sob a com a miscigenação de diferentes povos. Imigrantes portugueses, espanhóis, japoneses, italianos, entre tantas outras culturas culturas, vieram em busca da prosperidade que não desfrutavam em seus países. As Grandes Guerras grandes guerras do século passado, a fome e as perseguições políticas forçaram muitas famílias a cruzarem o Atlântico rumo ao recomeço de de uma vida. Sem dúvida, as crises são fatores preponderantes na decisão de abandonar a própria pátria.
Dessa forma, a crise brasileira desmotiva sobretudo a juventude. O sistema de ensino público, carente de investimento, não instiga o jovem a produzir e transmitir conhecimentos. Universidades sucateadas, como a UERJ, são reflexos de um Estado omisso e despreocupado em garantir a formação intelectual da população. Ademais, mesmo com um diploma, conseguir o primeiro emprego não é fácil: a especialização exigida afunila, cada vez mais, a competição no mercado de trabalho. Estudar, trabalhar e aposentar: no Brasil, e se aposentar são, no Brasil, sinônimos de frustrações.
Inclusive, no clima de desesperança, nuvens negras do fascismo e da intolerância já são vistas no horizonte. A juventude assiste ao despontar de lideranças autoritárias, cujos discursos já se ouviram na ditatura: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Inevitavelmente, com a democracia ameaçada, a educação abandonada e o emprego que mal paga as contas não bastam estrelas, flores ou amores suficientes para permanecer no Brasil.
Assim, torna-se evidente que, sem estímulos, cada vez mais jovens abandonarão a pátria rumo aos países desenvolvidos. Lá, encontrarão boas escolas, universidades e empregos, além de impostos menores (comparados aos brasileiros); enfim, encontrarão oportunidades de ascensão social. Somente quando o Brasil ofertar dignidade para a sua juventude juventude não haverá fuga da nova geração. Caso contrário, quem ainda ouvirá a canção do sabiá?
Comentário geral
Texto muito bom, que preenche todos os requisitos de uma dissertação argumentativa, não apresenta erros de maior gravidade e ainda demonstra um traço nítido de autoria, na alusão inicial ao poema de Gonçalves Dias, pertinente e muito bem retomada ao longo dos parágrafos, aumentando a coesão e unidade da redação. Alguns problemas pontuais não chegam a prejudicar o todo. Talvez um corretor mais rigoroso retirasse meio ponto da competência 1 devido aos trechos assinalados em vermelho e mais meio ou um ponto da competência 5. Ainda assim, a nota não seria menor do que 8,5.
Aspectos pontuais
1) Primeiro parágrafo: a) o poema citado manifesta a saudade da pátria, do poeta que está longe dela, no exterior, que ele chama de exílio. O autor da redação acabou manifestando isso de um modo ruim, por transformar o sentimento do poeta em uma fórmula artificial e mal redigida de manuais de literatura brasileira. b) A pergunta final é inadequada, pois o autor já deu uma resposta na frase anterior, ao falar que eles buscam um progresso que não existe aqui.
2) Quarto parágrafo: “bastar” significa “ser suficiente” e o autor incorre numa redundância. Era melhor contar a palavra “suficientes” no texto original.
Competências avaliadas
As notas são definidas segundo os critérios da pontuação do MEC
Redações corrigidas
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