REDAÇÕES CORRIGIDAS - Outubro/2017 A terapia de reversão da orientação sexual
História da Sexualidade: na fronteira entre Freud e Foucault
Nas conferências introdutórias à psicanálise, ministradas por Sigmund Freud, no começo do Século XX, é possível notar que o nascimento dessa ciência psicológica psicológica, que foge aos modos tradicionais de operar da psicologia (eminentemente comportamental até então) então), vem acompanhado de certos dogmas acerca da sexualidade, que deixam deixaram algumas marcas no Ocidente. Michel Foucault escreve, nesse sentido, duas obras que fazem ruir essas bases dogmáticas e preconceituosas da psicanálise.
Para Freud, os homossexuais eram pessoas com perversão sexual, isto é, eram sujeitos que tinham o funcionamento normal do cérebro alterado. Tal perversão precisava de um tratamento. Uma das soluções de Freud, muito aplicada no começo do Século XX, portanto, foram os eletrochoques, para que os indivíduos ficassem libertos e passíveis de um bom convívio em sociedade. A psicanálise vem, nesse sentido, como mais uma mancha na história de sangue da psicologia.
Foucault questiona tanto a história violenta da psicologia quanto a homossexualidade como perversão. O filósofo francês expõe, em “História da Loucura”, o fato de que a psicologia coloca certas suposições como “verdade científica” e usa tais verdades para dar veredito acerca da loucura de qualquer um, com base em seus manuais. Não menos importante é a obra “História da Sexualidade”, na qual Foucault argumenta que o poder (ou empoderamento dos indivíduos), no Século XXI, abriu espaço para que homossexuais assumissem sua orientação sexual, e que a sociedade liberal não se sustenta em cima da repressão da sexualidade dos indivíduos. Dessa forma, a homossexualidade é, para o filósofo, algo que o jogo político conservador, por interesses unilaterais, reprime, julgando como loucura ou doença.
Se pudermos pensar, como Foucault, que a vilificação da homossexualidade como doença ou forma de loucura faz parte de um dos lados do jogo entre liberalismo e conservadorismo, e se pudermos compreender que isso faz parte desse jogo de poder no qual as teorias psicológicas funcionam como mecanismos, parecerá inadmissível que se estabeleça uma tal “cura gay”, pois esta só pode ser fruto de uma ideologia opressiva e que tem por fundamento desempoderar cidadãos e as cidadãs.
Comentário geral
O texto está muito bem escrito, mas em termos de conteúdo ele apresenta grandes problemas, que obrigam a puxar a nota para baixo. Em primeiro lugar, as acusações que ele faz a Freud e à psicanálise não procedem. Freud não via a homossexualidade como uma doença, nem prescrevia uma terapia de eletrochoques para tratá-la. Foucault não se opunha propriamente à psicanálise freudiana, mas à psiquiatria clássica e às relações entre loucura e poder e sexualidade e poder. Portanto, o autor apresenta uma interpretação muito pessoal, além de sumário do pensamento foucaultiano. Por sinal, empoderamento é um conceito que não existia quando Foucault morreu, em 1984. De resto é evidente que, tendo morrido em 1984, não poderia falar sobre a homossexualidade no século XXI. Enfim, o autor se enrola em reflexões complexas, sem apresentar o devido embasamento, apenas para condenar a “cura gay” por uma perspectiva que lhe parece complexa e original. É pena. Se admitíssemos como válidos os argumentos do autor, sua nota aumentaria, ainda que a conclusão, que não decorre das premissas e é escrita de modo bastante tortuoso, impedisse que ele chegasse à nota máxima.
Aspectos pontuais
1) Primeiro parágrafo: não há dúvida de que há dogmatismo na psicanálise. Quanto a preconceitos, isso é muito discutível.
2) Segundo parágrafo: tudo o que o autor diz acerca de Freud não encontra suporte na obra do psicanalista austríaco.
3) Terceiro parágrafo: Há nele um anacronismo já apontado. Foucault não escreveu sobre o século XXI, pois morreu em 1984.
Competências avaliadas
As notas são definidas segundo os critérios da pontuação do MEC
Redações corrigidas
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