REDAÇÕES CORRIGIDAS - Maio/2016 Política X Ciência: a "pílula do câncer"
O Brasil pode desenvolver seus próprios medicamentos
A autorização do uso da fosfoetanolamina no Brasil garante que um medicamento com potencial para curar o câncer continue sendo desenvolvido, mas mas, além disso, garante que o desenvolvimento ocorra em laboratório nacional. A liberação não está livre de polêmicas, já que a “comunidade científica” é contra a lei aprovada.
No entanto, é importante esclarecer que esta essa comunidade não se trata de é um grupo de pessoas com opiniões homogêneas, nem tampouco conhecedora conhecedoras da verdade ou imparciais. Ademais, o que se chama de comunidade científica não é nem mesmo o grupo de todos os cientistas do mundo, com igual capacidade de deliberação. Antes disso, são algumas instituições representativas, lideradas por alguns laboratórios que concentram a maior parte dos investimentos feitos pela indústria farmacêutica e que têm interesse direto em garantir patentes e exclusividade de comercialização de medicamentos em todo o mundo.
Estes Esses laboratórios demonstraram nas últimas décadas uma grande disposição para desenvolver produtos lucrativos como remédios para a população idosa de países desenvolvidos. A atitude seria louvável, não fosse pelo simultâneo desleixo dado às pesquisas de doenças que assolam países subdesenvolvidos, como a malária e a febre amarela, que juntas matam mais que a AIDS e ainda não têm cura.
Ao sancionar o uso da fosfoetanolamina fosfoetanolamina, a classe política brasileira criou condições para que o desenvolvimento do medicamento continue em seu laboratório de origem, em São Paulo. No futuro, isto isso pode significar uma patente brasileira e evitar que as receitas obtidas com a comercialização sejam enviadas para o exterior por corporações multinacionais.
Portanto, observa-se que a decisão da “comunidade científica” também é uma decisão política, pois historicamente privilegiou os interesses de poucos. Além disso, a decisão do congresso Congresso brasileiro representa um estímulo para a ciência nacional.
Comentário geral
Não há dúvida de que se trata de um texto bem escrito, de caráter dissertativo e argumentativo, de alguém que compreendeu a proposta, mas resolveu desenvolvê-la por uma perspectiva particular, de caráter marcadamente ideológico, pois o texto exagera no nacionalismo e nos ataques a um subentendido imperialismo da indústria farmacêutica. No entanto, numa prova de redação, não se trata de avaliar o partido tomado pelo redator, mas de verificar como ele expõe suas ideias e isso o autor do texto soube fazer bem, à exceção de problemas pontuais.
Aspectos pontuais
1) Primeiro parágrafo: a lei sancionou o uso do medicamento (posteriormente suspenso pelo STF, mas isso foi depois de essa redação ter sido escrita). A fosfoetanolamina sintética já tinha sido desenvolvida antes da lei. Agora, a questão é se ela pode ser usada sem os testes necessários que comprovem sua eficácia.
2) Segundo parágrafo: questionar a posição da comunidade científica é um procedimento válido, certamente não existe um bloco homogêneo de cientistas, e conhecer a verdade é algo que implica imensas discussões filosóficas. Por outro lado, é o caso de perguntar: um paciente com câncer preferirira ser tratado por um oncologista ou por um deputado federal? De resto, os cientistas que debatem a fosfoetanolamina são os brasileiros, então não faz sentido falar em cientistas do mundo, assim como não dá para entender o que o autor quer dizer com a expressão com igual capacidade de deliberação? Em princípio, o cientista tem capacidade de deliberar sobre o assunto em que é especialista.
3) Terceiro parágrafo: Aqui também há uma espécie de sofisma. Para a febre amarela existe vacina, inclusive fabricada no Brasil, com eficácia de 95% e imunização que se estende por dez anos. Segundo o site dos Médicos Sem Fronteiras, a maioria dos casos de malária é evitável, detectável e tratável. Além disso, a Aids não é uma doença exclusiva de países desenvolvidos, matando muita gente na África subsaariana. Então, os exemplos não foram muito bem escolhidos. Mas, quanto ao fato de a indústria farmacêutica priorizar os lucros em detrimento das necessidades da humanidade, trata-se de uma afirmação que dificilmente poderia ser contestada.
4) Quarto parágrafo: novamente o autor fala em desenvolvimento de modo equivocado.
5) Quinto parágrafo: aqui o sofisma se transforma em exagero. Não é verdade que a ciência de um modo geral, historicamente, tenha privilegiado o interesse de uma minoria. O que explica o crescimento contínuo da população mundial é justamente o fato de a medicina ter conseguido diminuir significativamente a mortalidade infantil, bem como estar conseguindo prolongar a expectativa de vida da humanidade como um todo.
Competências avaliadas
As notas são definidas segundo os critérios da pontuação do MEC
Redações corrigidas
Os textos desse bloco foram elaborados por internautas que desenvolveram a proposta apresentada pelo UOL para este mês. A seleção e avaliação foi feita por uma equipe de professores associada ao Banco de redações.
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