REDAÇÕES CORRIGIDAS - Junho/2016 Estupro: como prevenir esse crime?
Reflexos do Patriarcado
O crime de estupro é um crime que apresenta uma característica muito peculiar em relação aos demais: a culpabilização da vítima. Atribui-se a causa ao seu comportamento, à roupa usada no momento do ato e aos locais que ela costuma frequentar. Tais fatores podem ser facilmente refutados quando se põe em evidência dados disponibilizados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que demonstram que mais da metade dos casos são cometidos contra meninas menores de treze anos.
Um ponto importante a se analisar é que esse ato é o reflexo de uma sociedade machista, produto de um longo processo de socialização entre gerações. Como herança cultural, o meio mais eficaz de se eliminar tal problema é justamente a conscientização da população e a criação de leis que garantam a liberdade sexual e a propriedade sobre o próprio corpo, desde que estes não infiram interfiram na liberdade do próximo, de modo a eliminar essa cultura da educação que as crianças recebem em casa e na escola, tendo em vista que estas são o futuro da nação e carregarão consigo os valores que lhes foram passados.
Desse modo, o primeiro passo é conscientizar a população para que estas possam passar as informações obtidas também em suas casas. Ainda mais importante, focar o ensino escolar, em especial o fundamental, na formação de caráter dos estudantes, debatendo assuntos como educação sexual, participação do pai na gravidez, identidade de gênero e o papel da denúncia na redução do número de casos. Por último, garantir a penalização dos praticantes de atos libidinosos e de agressão à liberdade pessoal é também fator primordial. Em frente às propostas apresentadas, é interessante ressaltar que a solução é ampla e demanda tempo, mas que não poderia deixar de ser mas isso não poderia deixar de ser assim, tendo em vista que não diz respeito somente à vítima e ao agressor, mas à cultura de toda uma sociedade.
Comentário geral
Texto muito bom, bem redigido e estruturado, com problemas pontuais de relativa gravidade. São muitas as vezes em que o autor usa expressões obscuras ou ambíguas, que prejudicam o sentido das afirmações que ele faz. De qualquer modo, tudo isso pode ser relevado em função do conjunto, que se apresenta como um todo coeso e coerente, que é de fato uma dissertação argumentativa e constitui uma reflexão sobre o tema proposto.
Aspectos pontuais
1) Primeiro parágrafo: o argumento não prova nada. Por que a culpabilização da vítima seria refutado pela pouca idade das meninas sujeitas ao estupro? Pode-se alegar que, mesmo tendo menos de 13 anos, elas parecem mais velhas, vestem-se de maneira provocativa ou o que quer que seja, de modo a culpá-las. O que efetivamente refuta a culpa da vítima é o fato de ela ser vítima, de ter sofrido violência para fazer algo que não era de sua vontade, algo com o que não consentiu. E, justamente, culpar a vítima, faz parte de uma mentalidade machista, que considera que uma mulher, ao frequentar certos ambientes ou se vestir de determinada maneira, está dando chance ao azar, ou está pedindo pelo abuso.
2) Segundo parágrafo: aqui há muita ambiguidade nas expressões em vermelho. a) Esse ato: o pronome faz referência a algo dito imediatamente antes e o termo estupro (a que a expressão que se referir) só apareceu no início do parágrafo anterior. Subentende-se que o autor se refere ao estupro, mas a referência é gramaticalmente incorrta. b) o que significa longo processo de socialização entre gerações? Como a cultura machista é produto disso? Ela certamente é um produto histórico, mas reflete mais uma falta de socialização adequada entre as pessoas. c) A rigor as leis já garantem a liberdade sexual e a propriedade do corpo. O estupro é um crime e há leis que o tipificam. Não se trata, portanto, de criar leis que já existem para resolver o problema. d) Impossível entender o que o autor chama de estes. Estes o quê? Se a referência à às leis, então seriam estas. e) Cultura da educação? Bastava falar em educação.
3) Terceiro parágrafo: a) fala em população no singular e depois refere-se a ela no plural. b) Número de casos do quê? Aparentemente, com medo de repetir a palavra estupro, o autor acaba deixando as coisas no ar, de modo ambíguo e incompatível com o texto escrito. c) Não há problema na prática de atos libidinosos, desde que em lugares privados e com concordância dos participantes. O crime é a violência sexual, é constranger a pessoa a presenciar atos libidinosos ou violentá-la.
Competências avaliadas
As notas são definidas segundo os critérios da pontuação do MEC
Redações corrigidas
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