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Priscila Cruz


Priscila Cruz

Nosso jornalismo pela nossa educação

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

19/07/2017 04h00

Como você se informa? Essa é uma pergunta cuja resposta se modificou profundamente nos últimos anos. Do rádio ao tablet, do jornal impresso ao podcast, da televisão ao Facebook, passamos por mudanças absurdas nas formas como obtemos informações sobre o mundo. A profusão de dados, notícias, estatísticas, opiniões e imagens é quase infinita, e às vezes fica difícil saber no que acreditar. Vivemos aquilo que alguns pesquisadores chamam de pós-verdade. Além disso, os especialistas vêm discutindo o boom de notícias falsas que dominaram especialmente a internet nos últimos anos.

Por essas e outras razões, o jornalismo responsável e comprometido com a verdade e, consequentemente, com a sociedade torna-se cada vez mais fundamental. Como sabermos o que ocorre nos cenários político e econômico do nosso país se não for por meio de informações sólidas e bem apuradas? O mesmo vale para a educação.

Você já imaginou que, se não fosse por meio de uma ótima reportagem de 2009, milhões de alunos teriam feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sendo que um exemplar da prova tinha sido roubado, colocando todo o sigilo do processo em risco? Também já parou para pensar na quantidade de reportagens que nos revelam diariamente denúncias de desvios da verba da educação, a falta de vagas em escolas, diagnósticos de desempenho dos alunos e greve de professores e funcionários?

Ah! E não podemos nos esquecer dos exemplos positivos: escolas e redes de ensino que superam dificuldades diversas e constroem projetos pedagógicos inspiradores dos quais só temos conhecimento por meio das boas reportagens.

A cobertura jornalística de educação vem crescendo muito nos últimos anos no Brasil. O tema ganhou força e gera um grande interesse, uma vez que ele é uma das principais preocupações do brasileiro, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional das Indústrias (CNI).

Desde o ano passado, a sociedade brasileira conta com a Associação de Jornalistas de Educação, mais conhecida como Jeduca, uma entidade comprometida com a qualificação da cobertura da área no país. A Jeduca procura apoiar os repórteres que cobrem a educação por meio de materiais informativos e do contato constante com outros jornalistas, além de representar os profissionais.

No entanto, ainda há muito a fazer. A própria Jeduca foi criada com base na percepção de que os repórteres que trabalham com educação carecem de formação e informação. Além disso, as matérias sobre a área ainda não têm o mesmo status das notícias de economia, por exemplo. Tal quadro foi constatado na pesquisa de doutorado, do jornalista Rodrigo Ratier, realizada na Universidade de São Paulo (USP). Ele mostrou que 99% dos profissionais de imprensa que cobrem a área não tiveram nenhum preparo para trabalhar com o tema. A tese também revelou que 73% deles afirmam que a formação universitária não ajudou a atuar nessa editoria.

Já a pesquisa de mestrado de Francisca Pereira, realizada na Faculdade Cásper Líbero em 2009, mostrou como a cobertura jornalística de educação tende a priorizar notícias sobre o ensino superior, deixando para escanteio informações sobre políticas públicas para o Ensino Fundamental, por exemplo. Apesar de o foco da pesquisadora ter sido apenas um jornal, essa tendência é visível em outros veículos.

A educação precisa de continuidade, transparência e gestão para atingir os parâmetros de qualidade que desejamos para o Brasil. O país tem mais de 5.500 municípios e 27 unidades da federação, o que significa que temos milhões de alunos e professores. Como ter certeza de que o direito à educação está sendo efetivado? O jornalismo é uma boa resposta para essa pergunta. E não só o chamado “jornalismo de educação”, mas também as outras editorias, como política e economia, uma vez que esse é um tema transversal e perpassa todas as esferas da vida em sociedade e do desenvolvimento do país.

Precisamos que a imprensa cumpra seu papel da forma mais ética e responsável possível. O chamado "quarto poder" deve ser vigilante, funcionando como os nossos olhos em tempo integral e assim enxergando até onde a nossa vista não alcança. Informar-se bem é, em suma, a melhor maneira de exercer a cidadania.

Priscila Cruz