Como a educação pode nos preparar para um planeta melhor
Muito se fala sobre a Geração Y – chamada de geração do milênio ou millenials. As análises e tentativas de caracterização desses jovens – aqueles nascidos entre meados de 1980 e 1990 – são inúmeras, e certamente você já deve ter ouvido alguma coisa a respeito. Apesar da diversidade de opiniões, os diagnósticos convergem em alguns aspectos: são jovens de mentalidade global, adoradores da tecnologia e preocupados com o meio ambiente. Para os millennials, acumular bens, propriedades e riquezas tem menos valor do que para seus pais. Seus interesses estariam direcionados a novas experiências e a transformar o mundo em um lugar menos desigual e, consequentemente, mais sustentável.
Diversas pesquisas apontam essa tendência, inclusive na geração seguinte – a denominada Geração Z, formada pelos nascidos a partir de meados dos anos 90 (ou seja, por nativos digitais, aqueles que já nasceram na era da internet). Um estudo de 2010 aplicado pelo Instituto Akatu em parceria com o Ipsos Public Affairs mostrou que um dos desafios sociais mais citados pelos jovens foi a redução da poluição do ar, da água e do solo, com 72% de menções. Tal preocupação era de 60% em 2001, de acordo com a mesma pesquisa. Além disso, 40% dos participantes disseram que gostariam de ter mais informações sobre mudanças climáticas, com o objetivo de adotarem uma vida mais sustentável. Vale destacar que, do total de jovens que responderam às perguntas, 49% completaram o ensino fundamental, e 40%, o médio.
Em 2011, um levantamento do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) feito com 20.462 jovens que cursavam o ensino superior mostrou que 77% tinham preferência por estagiar em lugares que defendessem a sustentabilidade como valor da empresa – dado que combina bastante com o que muitos pesquisadores já teorizaram sobre as tais “gerações” que são o nosso futuro.
O mundo é – e será – deles, então é importante que queiram cuidar dele. Mesmo por que a situação não é das melhores, e já sabemos disso há tempos. Tanto que, em 2000, 191 países aderiram aos Objetivos do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU). Tratava-se de um conjunto de oito metas a serem alcançadas até 2015. Dentre elas, uma focava exatamente atingir um mundo sustentável: o objetivo 7 visava “garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente”. Em 2015, houve uma conferência para avaliar o cumprimento dessas metas, e, tendo em vista os poucos avanços, chegou-se a uma nova lista de tarefas, agora denominada Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Com 17 objetivos e 169 metas para 2030, tem-se a especificação de alguns desafios, como o acesso à energia limpa e renovável; consumo e produção responsáveis; combate a alterações climáticas; e a preservação da vida na água e em terra, entre outros.
Como colocar tudo isso em prática? Só existe uma resposta: com educação. O relatório “Global Education Monitoring Report”, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), analisou em 2016 currículos de 78 países e descobriu que o desenvolvimento sustentável é uma temática tratada de forma generalizada e transversal. Os dados mostram que 73% dos países mencionam diretamente o termo, enquanto 55% usam a palavra “ecologia” e 47%, “educação ambiental”. A prevalência do tema nos livros didáticos também vem crescendo no decorrer das décadas: enquanto nos anos 1950 menos de 5% deles debatiam o assunto, entre os anos 2000-2001 50% continham o debate ambiental.
No Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que está em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE) e vai orientar a construção dos currículos de todo o país nos próximos anos, referencia o tema diversas vezes, em disciplinas como ciências e geografia. Dados do último Censo Escolar mostram que apenas 131.610 alunos matriculados na Educação Básica em tempo integral têm, no contraturno, aulas ou atividades referentes a educação ambiental, desenvolvimento sustentável e agroecologia. O número representa 2,1% dos matriculados nessa modalidade.
As famílias, claro, são fundamentais na educação ambiental das crianças. Mas é na escola que aqueles que não trazem tais valores de casa – consumo consciente e respeito à natureza, por exemplo – ganham tais noções. É nela que podemos fazer às nossas crianças a mesma pergunta que o economista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Ricardo Abramovay faz em seu livro Muito além da economia verde (2012): é mais importante construir uma casa ou produzir um jet-ski? Qual dos dois traz mais desenvolvimento e ajuda a corrigir os profundos abismos socioeconômicos? A educação traz cidadania e consciência de si, do outro e da sociedade. Se não for por meio dela, por onde será?
Com colaboração de Mariana Mandelli, jornalista do Todos Pela Educação
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