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Priscila Cruz


Priscila Cruz

Influenciador pessoal: o Professor

Edson Silva/Folhapress
Imagem: Edson Silva/Folhapress

17/10/2018 16h02

No Dia do Professor deste ano, dei uma palestra no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, para professores e pessoas ligadas à Educação Pública. Na ocasião, uma professora da plateia, chamada Maria Alcina Quintela, fez uma intervenção que eu adorei: “neste mundo em que influenciadores digitais são cada vez mais poderosos, precisamos entender que os docentes são os maiores influenciadores pessoais”. Ela tem razão. Professores são influenciadores de uma vida toda!

Apesar das diferenças entre as gerações, eu mesma tive vários professores que me marcaram muito. A primeira foi a “Tia Angela”, Angela Santos Caruso, minha professora no Jardim I e depois no Pré II, nomes que usávamos para a Pré-Escola naquela época. A Angela foi quem me alfabetizou, com quem eu primeiro me correspondi por cartinhas; ela foi a primeira a me dizer que eu escrevia bem (até me estimulou a escrever um livrinho aos sete anos) e a me dar livros com dedicatórias lindas. Foi a Angela que me ensinou a gostar de estudar e, por isso, a ser uma boa aluna. Esse é o poder de um bom professor.

Para muita gente, infelizmente, o primeiro bom professor demora muito mais a chegar. Pode aparecer apenas nos anos finais do Ensino Fundamental ou ainda mais tarde, no Ensino Médio. Independentemente de quando essa empatia pedagógica ocorre, quando ela acontece, nossas vidas ficam marcadas para sempre.

Tendo dedicado a minha carreira às políticas educacionais, sei bem o valor desse profissional. O impacto de um professor melhor ou pior qualificado pode equivaler à perda de um ano escolar, conforme indicam estudos do pesquisador norte-americano Eric Hanushek. Diferentemente do que se imagina, os bons professores não são essenciais apenas para os estudantes, mas também para seus pares na escola, como aponta pesquisa recente da Fundação Carlos Chagas.

Mesmo diante de tantas evidências positivas sobre a importância dos professores, ainda formamos mal nossos docentes, damos a eles condições de trabalho inadequadas e os sobrecarregamos, impossibilitando, assim, um ensino de qualidade sem o qual jamais venceremos as múltiplas e sucessivas crises sociais, políticas e econômicas do Brasil.

Assim como a minha professora Angela, ou como o professor Jayse Antônio, educador de destaque em Pernambuco; ou ainda Débora Seabra, docente com Síndrome de Down que vem quebrando paradigmas, milhares de professores podem liderar uma guinada na aprendizagem brasileira, nossa principal e mais grave crise. Nem todas as pessoas terão a oportunidade de ir ao Memorial do Holocausto, em Berlim, Alemanha, por exemplo, nem a um centro espacial, mas bons professores podem colocar esses e outros assuntos no rol de referências dos estudantes, contribuindo para uma formação crítica.

Para que um ensino dessa natureza se torne realidade, os gestores públicos precisarão dar atenção a todos os aspectos da profissão docente: atratividade, formação, salário, condições de trabalho e carreira. Não basta olhar para um ou outro ponto, uma profunda mudança exige um plano articulado. Boas experiências e estudos científicos sobre o tema não faltam, todos apontando na mesma direção: para termos professores de qualidade, inesquecíveis e transformadores, todas as dimensões da docência devem ser recalibradas, ainda que não ao mesmo tempo.

Grande parte da vida de crianças e jovens dá-se nas escolas e precisamos usar esse tempo para uma aprendizagem significativa. Os professores devem estar preparados para mediar o conhecimento cientificamente comprovado e acumulado pela humanidade e, assim, lançar as bases para o progresso do Brasil. Essa é uma responsabilidade e tanto para os docentes, incumbência que só poderá ser efetuada com qualidade a partir do apoio de todos nós. Que isso nos sirva de combustível para que, neste mês dos professores, façamos da docência uma causa de toda a sociedade brasileira.

Priscila Cruz