Quando ninguém se ouve, a Educação tem que falar mais alto
Se você já quebrou alguma parte do corpo, sabe que entre a fratura e o pleno restabelecimento do osso leva um bom tempo, cheio de cuidados com alimentação e conservação do gesso. Não é um processo fácil. O Brasil vem passando por uma situação semelhante. Estamos fraturados e fartos de corrupção, de mentiras, de desemprego, do achatamento dos salários e crescimento dos preços, de maus serviços públicos na saúde e na Educação.
Estamos cansados, é certo, mas o tempo do “ame-o ou deixe-o” felizmente ficou para trás e não é a polarização, que vem tomando ainda mais corpo nas últimas semanas, que mudará o País. Ela esvazia os debates e, enquanto nos fixamos em ódios contra isso ou aquilo, deixamos de debater aspectos fundamentais do País, como: qual Educação Pública precisamos oferecer em um Brasil em que os 1% mais ricos ganham em média 100 vezes mais do que os 50% mais pobres? Cem vezes mais!
Se quisermos que o Brasil inicie em 2019 um ciclo virtuoso, precisamos aproveitar esse tempo de fraturas, não para retroceder ou nos fecharmos em nossas bolhas, mas para estabelecer novos pactos sociais que contemplem as necessidades de diferentes grupos brasileiros. Não podemos sucumbir nem à polarização nem à antidemocracia, expressa em propostas que ameaçam as instituições democráticas - como o voto, o Congresso, a escola laica, o respeito às minorias, etc.
As eleições de 2018 podem, se assim nós o quisermos, estabelecer caminhos propositivos e não destruidores. Caminhos que priorizem a Educação, uma área que não dá conta de todos os nossos problemas, mas que é base essencial para melhorias em todos os campos: quanto maior a qualidade e a equidade da Educação de uma nação, maior a sua prosperidade financeira, assim como também são melhores os seus indicadores de saúde, participação política, segurança pública.
Esse é um debate urgente que se tem perdido em meio às bravatas de redes sociais e de almoços de domingo. Envolvidas pela polarização, pessoas de diferentes espectros políticos têm feito de pautas menores o centro das discussões. Fala-se em uma suposta “doutrinação política” em curso nas escolas ou ainda em revogar políticas educacionais que já estão em andamento, assuntos que passam longe do nosso verdadeiro problema: as crianças não estão aprendendo. Ao deixarmos de lado debates cruciais como os que tratam dos motivos da não aprendizagem, estamos explicitamente sabotando o futuro de nossos meninos e nossas meninas e retardando o processo de desenvolvimento do País.
Nas urnas, no próximo domingo, duas coisas devem guiar a participação de todos nós: a defesa da democracia e da Educação; não o medo, nem a vingança. Precisamos defender os espaços de pluralidade, de diálogo, de convergência, de respeito à diversidade. É a democracia que garante instituições que permitem olharmos para o bem coletivo, onde todos tenham oportunidades, desde o filho do porteiro até o do médico.
A escola pública universal e de qualidade é uma dessas instituições. Ela reconhece que alguns precisam de mais apoio que outros e, assim, quebra grilhões de pobreza. Um País democrático acolhe essa escola, enquanto os projetos antidemocráticos a tornam impossível. Em um estado autoritário, a escola pública pode ficar em segundo plano, criança fora da escola se torna um quadro normal, não se respeita a diversidade que existe nos ambientes educacionais, o ensino não é crítico.
Não é isso que queremos nem precisamos. Nossos problemas são comuns a todos e a solução passa por garantirmos uma Educação transformadora de vidas. Não a Educação de slogans vazios de muitos políticos, mas aquela comprometida com a pluralidade, a democracia e a realidade do País - um ensino pautado nas boas experiências que estão largamente documentadas e nas verdadeiras necessidades de escolas, professores e alunos.
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