Topo

Coluna

Priscila Cruz


Priscila Cruz

Foco na relação aluno-professor

Divulgação/secretaria da Educação do Estado de São Paulo/A2img /Diogo Moreira
Imagem: Divulgação/secretaria da Educação do Estado de São Paulo/A2img /Diogo Moreira

11/10/2017 04h00

As pessoas que convivem comigo devem estar cansadas de me ouvir dizer que o professor é o principal profissional do país – brinco que é o “PPPP”. Apesar de todas as evidências nessa direção, o docente ainda não é visto nem valorizado na dimensão equivalente ao seu papel na sociedade, sendo que um professor pode mudar a vida de um aluno para sempre, garantindo aprendizagens, apontando novas possibilidades, melhorando sua autoestima e apoiando seu projeto de vida.

Ouvimos, por muitos anos, uma expressão repetida à exaustão: políticas educacionais devem ter foco no aluno. Ainda que todo o sistema educacional deva funcionar para a formação integral dos estudantes, o foco das políticas, dada a centralidade do papel do professor nessa formação, deve ser, portanto, na relação aluno-professor, frase que peguei emprestada do professor Luciano Meira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

Não faltam pesquisas que assegurem essa ideia e revelem os efeitos positivos de um bom relacionamento entre estudantes e docentes. Em 2015, o relatório Global Survey of Teacher Effectiveness, com dados de 23 países, incluindo o Brasil, mostrou que a aproximação entre professor e aluno é uma das chaves para uma educação de qualidade. No caso dos alunos brasileiros, as características de um bom professor mais mencionadas por eles foram a paciência (13%) e aspectos de uma boa relação (12,8%).

O professor também é fator determinante para que os alunos não abandonem a escola. O estudo “Juventudes na escola, sentidos e buscas: Por que frequentam?”, também de 2015, revelou que, segundo os alunos, além de dominar o conteúdo, o professor deve se mostrar disposto ao diálogo e a estabelecer um vínculo de respeito.

Tais aspectos, de acordo com os estudantes ouvidos, são fundamentais para que eles permaneçam na escola. A pesquisa foi realizada por meio de uma parceria entre o Ministério da Educação (MEC), a Organização dos Estados Interamericanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Os especialistas ouviram 8.283 jovens entre 15 e 29 anos, em diversas cidades do País.

Outro estudo também corrobora essa percepção: dados de 72 países que participaram do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), em 2015, mostram que determinadas características do professor potencializam a aprendizagem de suas turmas. Um exemplo: quanto mais ajuda individual ele dá aos seus alunos, menor o nível de ansiedade deles. O contrário também é verdadeiro: quanto mais o docente subestima o estudante, mais ansiedade ele traz para a vida escolar desse jovem. A consequência desse quadro também aparece no levantamento: os países com os alunos mais ansiosos tiveram o menor desempenho no Pisa.

Os dados desses estudos são bastante sólidos, mas precisamos lembrar que existem múltiplos fatores que impactam – e até impedem – que o professor faça um bom trabalho e crie um vínculo com seus estudantes. O mais grave deles é a violência contra o docente, tema urgente e extremamente triste que já exploramos aqui há algumas semanas e que exige políticas públicas específicas.

Mas é inegável que uma relação saudável entre professor e aluno só traz benefícios para ambas as partes. Diálogo, compreensão, cuidado, carinho e escuta são elementos que, misturados a boas práticas de ensino, permitem que o estudante efetivamente aprenda em um ambiente construtivo e produtivo.

Segundo a American Psychological Association (APA), para desenvolver um vínculo positivo com suas turmas, o docente deve mostrar que estar com elas é prazeroso, interagindo com respeito e oferecendo suporte para que os alunos reflitam sobre suas habilidades. O professor também deve, segundo a APA, ter conhecimento da vida que as crianças e jovens levam fora da escola, sabendo inclusive detalhes de seus interesses e emoções. 

Já a Australian Society for Evidence Based Teaching resume em três os elementos essenciais para positivar a relação do docente com seus estudantes: carinho/receptividade, empatia e tempo.

Como podemos perceber, são muitos os ingredientes do relacionamento entre professor e aluno que fazem desse vínculo um dos mais importantes na vida de qualquer ser humano. Mas podemos resumi-los na seguinte frase de Paulo Freire: “Me movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente”.

Com a colaboração de Mariana Mandelli

Priscila Cruz