Topo

Coluna

Priscila Cruz


Priscila Cruz

Qual é a importância das avaliações externas?

Ricardo Matsukawa/UOL
Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

05/07/2018 04h00

Desde o começo da humanidade, os seres humanos têm coletado e interpretado informações para se organizarem no espaço e nas ações cotidianas. Planejar, ponderar e orientar fazem parte da rotina. São os mesmos princípios que aplicamos, por exemplo, em uma viagem de carro: quanto tempo levarei para ir de São Paulo ao Rio? Em que ponto devo parar para abastecer? Quantas roupas e dinheiro preciso levar para determinada quantidade de dias?

Com a Educação Pública não é muito diferente, mas existe um agravante: é muito mais complexo ponderar e orientar um sistema que agrega 48,6 milhões de alunos. E isso não apenas em aspectos objetivos (tais como infraestrutura e investimento, por exemplo), mas também naqueles que são mais subjetivos (como a aprendizagem das crianças e jovens).

É para dar conta desse enorme desafio que também avaliamos a Educação, olhando, por exemplo, o desempenho (por meio do recém atualizado Saeb) ou a estrutura das redes (com o Censo Escolar e os questionários de contexto).

O sistema de avaliação educacional brasileiro está para a Educação como os sistemas de navegação estão para o transporte. Nesse sentido, a bússola é um bom exemplo. Antes do uso desse instrumento, que identifica o norte de acordo com os polos magnéticos da Terra, viajar pelos mares era um grande mistério que frequentemente acabava em desastre.

As avaliações educacionais funcionam mais ou menos da mesma maneira. Elas ajudam os gestores educacionais a identificar os pontos fortes e fracos de diferentes áreas da Educação, permitindo que se veja onde se está e aonde se quer chegar. O que nos leva a um segundo ponto a ser considerado quando falamos sobre as avaliações: o contexto.

Isso porque não basta apenas coletar informações de uma bússola: temos que ter um mapa para interpretar o que esses dados significam. A bússola é, sim, fundamental, mas sofre interferência das condições geográficas locais, por exemplo. Na Educação, o processo é semelhante.

Por melhores que sejam as informações coletadas, os diferentes contextos interferem nos significados dos dados. Não é possível comparar a aprendizagem de crianças indígenas de uma aldeia do interior do Amazonas (alfabetizadas em duas línguas e com uma vida comunitária muito específica) com a de uma criança do centro de São Paulo capital.

Infelizmente, a maneira como os resultados das avaliações surgem nos noticiários acostumou-nos muito mal. Geralmente associadas a rankings e mérito, aprendemos a ler essas informações colocando como bom quem está em cima e ruins, os que estão abaixo. Isso é um problema, porque avaliações não devem ser utilizadas para alimentar disputas entre sistemas de ensino, escolas, países etc., mas, sim, para estimular a troca de experiências.

Uma vez que compreendamos isso, será possível valorizar as avaliações em toda sua potência. Elas podem nos indicar como desviar dessa ou daquela pedra que impedem que nossas crianças e jovens aprendam. Além disso, não podemos esquecer que as avaliações também desempenham um papel importante na democracia: elas permitem que a sociedade monitore a situação da Educação, custeada com os recursos de todos nós e responsável pelo preparo das próximas gerações.

Governos de todas as esferas, especialmente o Ministério da Educação (MEC), precisam colaborar entre si para fazer de nossas avaliações e indicadores um sistema ainda mais integrado.

Ao unificar as avaliações de desempenho sob o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), um importante passo foi dado nessa direção. Contudo, não podemos esquecer da interpretação, do cruzamento de informações e da criação de novos indicadores! É somente por meio de uma boa e extensa análise de dados que bons exemplos podem ser estudados e as boas lições adaptadas a contextos locais.

Priscila Cruz