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Priscila Cruz


Priscila Cruz

Gestão educacional: ajustando o foco para a aprendizagem

Alex Almeida/Folhapress
Imagem: Alex Almeida/Folhapress

Colaboração para o UOL

16/01/2019 14h28

Todos já recebemos alguma vez aquelas imagens que têm uma aparência ao princípio, mas que depois assumem outra forma. O fenômeno da ilusão de ótica faz com que enxerguemos figuras de maneira distorcida ou que talvez nem estejam ali. E isso não é exclusividade da física. Histórias passadas de geração a geração falam sobre a prudência e a importância de nos certificarmos bem antes de tirarmos nossas conclusões.

Era de se imaginar que já tivéssemos aprendido essa lição. Afinal, todo progresso da ciência, seja de que área for, seguiu essa lógica. Infelizmente, ao que tudo indica, isso ainda não é assim, pelo menos não na Educação. O Brasil sofre de uma dificuldade histórica de efetuar planos a médio e longo prazo na área educacional; desviamos a atenção a todo momento. A cada gestão, há novas políticas e novos obstáculos a serem combatidos, deixando de lado o diagnóstico e o acúmulo de estudos sobre práticas que deram certo.

Quer um exemplo? Há muito sofremos de uma fé cega na eficiência da reprovação escolar. A prática é considerada por muitos como a motivação que falta para que os estudantes brasileiros se comprometam com a aprendizagem. Nada mais distante da realidade. Essa "ilusão de ótica" ocorre porque muitos acham que aprendizagem está unicamente ligada à dedicação do aluno. Na verdade, uma série de fatores interagem ao mesmo tempo para que ela aconteça e, por isso, focar somente no comprometimento dos estudantes não resultará em avanço.

Essas visões truncadas de problemas complexos atingem muitos gestores públicos, fazendo com que eles sigam pistas falsas e coloquem energia e recursos em aspectos que não resolvem o mau desempenho de nossos meninos e meninas. Muitas vezes, tratam-se de iniciativas que sequer resistem a uma análise técnica criteriosa. Perde-se tempo, e tempo em Educação significa o desenvolvimento de milhões de crianças e jovens.

Por isso, o compromisso feito pelo secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares da Silva, com a aprendizagem, e somente com ela, é preciso ser destacada. Recentemente, ele defendeu que a única "ideologia" que sua pasta tem pela frente é a da aprendizagem, em uma referência aos projetos de lei que têm tentado colocar no centro das discussões educacionais uma suposta doutrinação de esquerda espalhada pelas escolas do País. Ao dizer que seu foco é a aprendizagem, Rossieli diz que está comprometido com o que importa e traz resultados, o mais é distração.

E ele tem razão, para garantirmos um futuro com jovens que tenham vivido uma trajetória escolar significativa para si e para o Brasil, é preciso ajustar o foco dos esforços nas iniciativas que são determinantes para uma aprendizagem de qualidade: política intersetorial de Primeira Infância para apoiar o desenvolvimento infantil integral, alfabetização de qualidade, implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Ensino Médio mais alinhado ao interesse dos jovens, melhoria da governança educacional, boas políticas voltadas ao preparo e à valorização dos professores e um financiamento educacional mais equitativo. Criadas a partir de muitos estudos e de diagnósticos da realidade educacional brasileira ao longo de décadas, essas ações e a relação entre elas estão na agenda EducaçãoJá!, um documento criado por especialistas na área e disponível para o uso das gestões federal e estaduais.

A oportunidade de traçarmos um plano de médio e longo prazo, que poderá mudar o Brasil que conhecemos para melhor, é agora, quando podemos aproveitar nossas vantagens demográficas (enquanto ainda temos mais jovens que idosos), o novo ciclo gestor que se inicia e uma série de políticas educacionais que ainda estão no começo, em fase de implementação. Quanto antes dedicarmos atenção ao que importa, mais rápido chegaremos lá.

Priscila Cruz