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Priscila Cruz


Priscila Cruz

Por que a escola do seu filho é chata?

24/08/2016 06h00

Sabemos da importância da educação para a juventude como garantia de uma vida plena e com oportunidades relevantes, mas como lidar com a reclamação – frequente – de que "a escola é chata"?

Parece apenas uma desculpa esfarrapada para não estudar. Mas será que é mesmo? Vamos refletir um pouco sobre como é hoje o ensino médio na maioria das escolas públicas e particulares no Brasil:

  • tem, pelo menos, 13 disciplinas obrigatórias – número que varia de acordo com cada estado;
  • a carga horária é de 4 horas de aula por dia, tempo insuficiente para aprender bem todo esse conteúdo. O contato dos alunos com algumas matérias é de uma aula apenas – menos de uma hora – por semana;
  • os conteúdos são fragmentados – a aula de biologia não tem integração com a de química, por exemplo;
  • as aulas são majoritariamente expositivas – os jovens têm pouco ou nenhum protagonismo em seu próprio aprendizado;
  • é um sistema que incentiva a "decoreba" com o objetivo de passar nos vestibulares – o que, mesmo assim, somente os alunos de algumas poucas instituições acabam conseguindo;
  • e esse currículo enciclopédico vale para absolutamente todos os estudantes; não há diferentes trajetórias possíveis.

Você ainda acha que os jovens que reclamam da escola estão de todo errados?

Vários países do mundo já perceberam que um mesmo modelo de escola não serve a toda a diversidade da juventude. É por isso que a reforma do ensino médio é um assunto discutido há anos. Porém, nunca chegamos a um consenso, mesmo sabendo que não é segredo para ninguém que essa etapa é um dos maiores gargalos da educação brasileira. O debate é delicado, pois qualquer decisão impacta a vida de milhões de jovens de todas as regiões e estratos sociais. Mas isso não pode ser uma desculpa para não mudarmos algo que não está bom.

Por exemplo, há um Projeto de Lei de reforma do ensino médio em tramitação desde 2013. Com o objetivo de tornar o ensino médio mais próximo da realidade, dos interesses e das necessidades dos jovens, esse PL propõe:

  • flexibilizar o currículo, mantendo uma base comum, mas permitindo ao aluno decidir em que áreas de conhecimento quer se aprofundar;
  • oferecer opções de formação mais acadêmica – voltada à entrada no ensino superior – ou mais profissional – orientada para a entrada no mercado de trabalho;
  • universalizar progressivamente a educação em tempo integral, de forma a possibilitar que todos os alunos tenham uma base de conhecimento comum e tempo para se dedicar às trajetórias formativas que escolherem.  

Enfim, são diversas as possibilidades, mas duas coisas não podem sair do nosso horizonte: a urgência da transformação do ensino médio e a clareza de que nada pode ser decidido sem ouvir aqueles que serão atingidos pelas mudanças: os próprios jovens.

Priscila Cruz