Quanta vida cabe em dez anos?
Se alguém me perguntasse em 2006 o que eu imaginava para a minha vida nos próximos dez anos, certamente eu teria dito uma série de coisas bem diferentes das que aconteceram: tive duas filhas lindas, me divorciei, realizei o sonho de fazer um mestrado em Harvard. Um caminho cheio de curvas, que, certamente, ainda tem muito chão.
Há dez anos, eu também ajudei a idealizar e a fundar o movimento Todos Pela Educação, que comemora sua primeira década de existência nesta semana, a mesma em que nosso país comemora mais um aniversário de sua independência. A expectativa era altíssima quando traçamos cinco grandes metas para a educação brasileira, com a intenção de monitorar e cobrar a evolução do Brasil em termos de acesso, alfabetização, aprendizagem, fluxo escolar e financiamento do ensino básico público. Mais tarde, criamos também as cinco bandeiras, com foco nas políticas públicas entendidas como urgentes para avançarmos mais rapidamente, e as cinco atitudes, com a intenção de apoiar as famílias e toda a sociedade na necessária mobilização pela educação.
Apesar de, uma década mais tarde, os resultados ainda não serem os que desejamos para nossa educação, creio que plantamos algumas sementes cujos resultados já começam a aparecer. Por exemplo, durante essa década foram muitas conquistas:
- a matrícula obrigatória dos 4 aos 17 anos, instituída pela Emenda Constitucional nº 59 em 2009;
- o fim da desvinculação de receitas da União (DRU), que retirava dinheiro da educação (que agora está sob ameaça);
- o Piso Nacional do Magistério, que elevou o salário inicial dos professores;
- um Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) e uma avaliação para aferir essa alfabetização;
- um Plano Nacional de Educação construído democraticamente, que contempla de forma objetiva os principais desafios da educação;
- a discussão da reforma do ensino médio, para que essa etapa finalmente reflita os anseios e o projeto de vida dos jovens;
- maior controle social, ou seja, disponibilização e transparência de dados educacionais, e fiscalização e cobrança da sociedade pela melhora da qualidade da Educação.
O Todos Pela Educação atuou fortemente, em conjunto com outros grupos e organizações da sociedade brasileira, por essas e outras conquistas, ajudando a fomentar o debate público e a pautar a nossa educação. Temos plena consciência de que é preciso reconhecer os avanços, sim, mas também de que eles foram e ainda são muito tímidos perto de tudo o que o Brasil ainda precisa.
Precisamos que as políticas públicas sejam implementadas com eficiência, para que na próxima década não se atrase a vida de nenhuma criança ou jovem brasileiro. Que o professor seja de fato valorizado e tenha uma formação adequada e melhores condições de trabalho. Que a escola faça sentido para as crianças e jovens do século 21. E que a educação avance, porque retrocessos são inaceitáveis.
Uma frase que ouvi do filósofo Mário Sérgio Cortella, sócio-fundador do movimento e a quem admiro muito, resume o espírito que devemos ter daqui para a frente: o otimista trabalha para que as coisas aconteçam; o pessimista é preguiçoso, porque sua posição inerte é confortável e fácil. Portanto, sejamos otimistas e sigamos em frente pelas próximas décadas, porque nossos filhos e alunos – e, consequentemente, o Brasil – não podem esperar mais!
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