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Priscila Cruz


Priscila Cruz

Quem quer ser cientista?

02/11/2016 06h00

Acho que quase todo mundo já pensou em ser cientista, astronauta, químico, arqueólogo ou coisa do gênero em algum momento da infância. Imagine passar a vida pesquisando a cura de doenças, viajando pelo espaço e descobrindo mundos novos?

Nas brincadeiras, as crianças adoram pensar que são pesquisadoras realizando grandes experiências em seus laboratórios. Minhas filhas, por exemplo, são muito curiosas. Em casa, sempre realizamos juntas as experiências que vemos nos blogs que ensinam ciências para crianças. Elas também gostam de brincar de arqueólogas – especialmente agora que eu apresentei para as duas o mundo do Indiana Jones!

Mas por que essa vontade se perde com os anos? Minha pergunta é: por que essa curiosidade que temos por dinossauros, estrelas e tubos de ensaio acaba desaparecendo com o tempo e nos distanciamos da possibilidade de ser cientistas?

Arrisco dizer que no Brasil a Educação Básica não favorece o ensino e a aprendizagem dos saberes científicos desde o início da escolaridade, o que claramente impacta as decisões futuras dos jovens. Uma prova disso é a pesquisa de abrangência nacional que o Instituto Abramundo divulgou há dois anos.

O estudo criou um Indicador de Letramento Científico (ILC) que servia para revelar a cultura científica dos brasileiros. Ou seja: medir os conhecimentos e habilidades básicos para lidar com a ciência na rotina do dia a dia, como, por exemplo, ler a bula de um remédio ou calcular a quantidade de gasolina para usar em certa distância. Coisas aparentemente simples, não? Pois os resultados mostraram que somente 5% dos brasileiros – que dominam conceitos e termos complexos e conseguem interpretar fenômenos -- podem ser considerados proficientes cientificamente falando.

Um quadro que pode justificar essa taxa tão baixa é a dificuldade de formar professores em biologia, física e química, já que muitos preferem seguir outras carreiras em vez de dar aulas -- que podemos pôr na conta da desvalorização histórica da docência que existe no Brasil. Além de tudo disso, vale lembrar que a infraestrutura das nossas escolas ainda é bastante precária, o que faz com que a maioria delas não possua laboratório de ciências. Dados de 2015 mostram que somente 8,6% das escolas públicas de Ensino Fundamental e 43,9% de Ensino Médio contavam com esse ambiente em seus prédios.

Nesse cenário, as exatas e biológicas acabam sendo vistas como áreas difíceis, em que somente alguns – e poucos! – teriam facilidade de aprender. Mas será que é isso mesmo? Se não revirmos esse preconceito tanto na escola quanto em casa, continuaremos perdendo potenciais cientistas.

Como mães e pais, podemos motivar a curiosidade dos nossos filhos pelo mundo da ciência – afinal, ele é o nosso mundo! Não estamos separados dele (como já falei aqui)! A formação da chuva, por exemplo, é um fenômeno físico. Já o surgimento de ferrugem numa barra de ferro, a fermentação do pão e a coagulação do leite para se transformar em queijo são processos químicos! Viu só?

Por isso, deixo aqui algumas dicas de como revelar a ciência na sua rotina com os seus filhos. Vamos lá:

- Verifique se a escola do seu filho promove feiras de ciências e se participa das olimpíadas científicas realizadas anualmente – como a Olimpíada Brasileira de Astronomia, a Olimpíada Brasileira de Física, a Olimpíada Brasileira de Química, etc.;

- Incentive seu filho a assistir a programas, filmes didáticos e de caráter científico. Existem boas opções tanto na TV aberta como na fechada, com canais inteiros dedicados a esse tipo de programação;

- Busque informações sobre mostras e exposições que tratem de temas científicos. As universidades públicas são sempre uma boa opção de passeio, já que várias têm museus próprios com temas diversos – zoologia, anatomia, etc. Os museus municipais e estaduais também não podem ficar de fora. Muitos têm descontos para estudantes e dias específicos em que não se paga nada para entrar;

- Acompanhe as ações promovidas por órgãos do governo federal, como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Capes), por exemplo. É o caso do programa de Iniciação Científica Júnior (ICJ), do CNPq.

Temos que incentivar nossos jovens a não temer a matemática, a química, a biologia e a física, mostrando como essas matérias podem ser interessantes e como facilitam o nosso cotidiano! Com atitudes como essas, tenho certeza de que passaremos a vibrar todos os anos no Dia Nacional da Cultura e da Ciência, celebrado todo 5 de novembro.

Gostar de ciências nos ajuda a entender o mundo em que vivemos!

Priscila Cruz