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Priscila Cruz


Priscila Cruz

Falta de Educação mata?

17/08/2016 06h00

Há pouco mais de um mês, falei aqui que uma educação de má qualidade pode matar lentamente, já que reduz drasticamente as possibilidades e os caminhos que levam uma criança a uma vida adulta plena. Mas e a falta de educação? Não frequentar a sala de aula, seja ela boa ou ruim, pode matar? Todo mundo sabe que o melhor para os jovens em idade escolar é a escola. Mas será que entendemos de fato a importância disso?

Alguns dados revelam como a falta de educação pode matar os sonhos e, nos casos mais graves, tirar a vida dos jovens. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – saiba mais: http://zip.net/bftqJY – mostra a correlação entre escolaridade e violência, e revela o seguinte cenário:

  • para cada 1% a mais de jovens brasileiros entre 15 e 17 anos na escola, há uma redução de 2% na taxa de assassinatos nos 81 municípios que concentram os bairros mais violentos do país;
     
  • os bairros com as melhores escolas têm as menores taxas de crime;
     
  • segundo os especialistas do Ipea, outros dados já conhecidos apontavam para essa relação – por exemplo: indivíduos com até sete anos de estudo têm 15,9% mais chance de sofrer um assassinato do que os que cursaram o Ensino Superior;
     
  • o período que vai dos 12 aos 30 anos é a fase da vida em que a probabilidade de cometer e sofrer crimes é maior.

Ou seja: estar na escola é, sim, uma forma de proteger e desenvolver a vida das crianças e dos jovens.

Outra pesquisa divulgada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) em julho parece confirmar esse triste quadro. O título, “Educação: blindagem contra a violência homicida?” já dá mais do que pistas da relação entre falta de educação e criminalidade (veja aqui: http://zip.net/bmtqPv). O estudo mostra que para cada jovem de 15 a 19 anos com doze ou mais anos de estudo – o equivalente, no Brasil, ao Ensino Fundamental e Médio completos – vítima de homicídio são assassinados outros 46 com até três anos de estudo. A diferença é assustadora.

Com tantas evidências sobre o papel da Educação para garantir a segurança da nossa juventude – e de todos –, por que ainda aceitamos que 2,8 milhões de crianças e jovens brasileiros estejam fora da escola? Precisamos zerar esse número! E faremos isso garantindo educação a todos eles. Cabe a cada um de nós incentivar aqueles que evadiram o retorno à escola. E, para que essa escola seja atraente e faça sentido para eles, há muita coisa a mudar. A mobilização de todos e de cada um de nós – propondo, cobrando e apoiando essas mudanças – é fundamental. Na próxima semana, vou falar sobre o projeto de reformulação do ensino médio, que visa justamente uma escola melhor e mais relevante.

Temos hoje jovens motivados em causas sociais e inovadoras, participando de projetos importantes para a sociedade brasileira. Devemos incentivar essas iniciativas, para que esse quadro melhore cada vez mais!

Priscila Cruz